Menu

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tim Walker e Mel Bochner em Londres


Está aberta a retrospectiva do artista plástico Mel Bochner, na Whitechapel Gallery, em Londres. A exposição, que segue seu rumo para Munique e depois para o Porto, no ano que vem, traz tanto trabalhos recentes como alguns dos mais icônicos de sua carreira.

“Blah Blah Blah”, de 2011, é o primeiro quadro a dar as boas-vindas, embora a repetição das palavras em letras garrafais deixem a dúvida se o artista quer mesmo deixar o visitante entrar. As cores vibrantes, no entanto, soam convidativas - ou seriam mais um sinal da saturação do artista?

Blah Blah Blah, 2011
Em um espaço reservado no chão, quatro aglomerados de jornal pintados com tinta azul montam, desmontam e remontam a forma do quadrado, na obra “Theory of Painting”, de 1970. 

Theory of Painting, 1970
Mas nenhum outro trabalho de Bochner despertou mais a minha curiosidade que “Misunderstandings (A theory of photography)”, de 1970. No quadro, nove retângulos de papel trazem nove citações diferentes, todas relacionadas ao significado da fotografia. Dessas nove, porém, três são falsas. No canto do quadro, o que parece ser o negativo da polaroid “Actual Size (Hand)”, de 1968, é mais uma indicativa da contradição da obra: polaroids não tem negativos, deixando no ar a dúvida quanto a veracidade da imagem fotográfica. 

Partes soltas de "Misunderstandings - A theory of Photography", de 1970
Sobre esse trabalho em particular, Bochner explicou que, por volta de 1967, percebeu que seu trabalho estava se aproximando cada vez mais do universo fotográfico. Na intenção de entender um pouco mais, começou a pesquisar o que já tinha sido dito sobre o assunto, mas surpreendeu-se ao achar tudo uma “baboseira”. Então começou a tomar notas de tudo o que julgava “mal-entendido”, mas ainda não sabia como transformar as citações em trabalho. Foi depois de algum tempo tentando ter as frases publicadas que Bochner recebeu um convite de Marian Goodman, em 1970, para expôr o trabalho. 

A discussão sobre o que é, foi ou deixa de ser fotografia continuou em uma outra galeria de Londres, durante a exposição  “Tim Walker: Story Teller”, na Somerset House. O fotógrafo é mundialmente conhecido pelas imagens oníricas, de cores apasteladas e objetos gigantes que vem colorindo as edições da Vogue, Vanity Fair entre outras, mês após mês, há cerca de uma década. A exposição traz algumas das fotos mais recentes da carreira do artista e é acompanhada pelo lançamento do livro pela editora Thames & Hudson, cujo título é o mesmo da exposição.

Nas paredes da Somerset, algumas reflexões do próprio Tim não deixam “mal-entendidos”, como as citações de Bochner, embora também passe longe de tentar "definir" o que é ou deixa de ser o objeto fotográfico:  "Para mim, a fotografia é muita mais forte quando a ideia é sugerida, ao invés de algo definido. Quando a ideia já está definida, não tem muito para onde a imaginação correr".

Estão também disponíveis partes do cenário de alguns de seus ensaios, como o avião de madeira quase em tamanho real do tipo “Spitfire”, que abre a exposição.  O set para a Vogue inglesa, edição de 2009, foi inspirado no filme “A Matter of Life and Death”, um clássico de 1946. Também fazem parte da visita um boneco gigante, um barco de madeira em forma de cisne e algumas outras “invencionices” que compõem seus cenários. Coisas que não teriam lá muito apelo em outra exposição - mas é que aqui, no mundo de Tim, tudo fica especial.

A modelo Lily Donaldson e o avião Spitfire, 2009

A réplica do avião Spitfire, quase em tamanho real, na Somerset House
Também um vídeo de não mais de 15 minutos trás uma compilação de making-offs, fashion films e pura poesia em alguns de seus sets mais recentes, tendo como ponto-alto Tim dirigindo os cinco cavalheiros remanescentes do Monty Python, durante uma sessão de fotos para a Vanity Fair, em 2009.

Os cinco Monty Python para a Vanity Fair, em 2009
Acompanho o trabalho do fotográfo há uns bons anos e devo admitir que tinha começado a achar  tudo um pouco cansativo. Parecia que ele tinha encontrado a “fórmula mágica” e vinha usando os mesmos artíficios desde então. Mas me surpreendi ao encarar um Tim Walker em progresso. Muitas de suas fotos mais recentes trazem menos elementos, mas sem perder a áurea fantasiosa dos trabalhos anteriores. O ensaio com a modelo Agyness Deyin (link abaixo), na Namibia, em 2011, é um exemplo da entrada de Tim no mundo adulto: fantasia, mas na medida. 


Também destacaria os portraits como um dos pontos altos da exposição: Alexander McQueen e Tilda Swinton, entre outros, ganharam um toque (sutil) de magia sob as lentes do fotógrafo. 

Alexander McQueen, em 2009
Tilda Swinton para a W Magazine, em 2011

Para aqueles que estarão de passagem por Londres nesse fim de ano, a exposição de Mel Bochner fica até 30 de dezembro, e a de Tim Walker até 27 de janeiro do ano que vem. Mais informações em http://www.whitechapelgallery.org/exhibitions/mel-bochner-if-the-colour-changes (Bochner) e http://www.somersethouse.org.uk/visual-arts/tim-walker-story-teller (Tim Walker)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Estamos aqui para ouvir tudo que você tiver para falar sobre a nossa Aventura!
O resto, você já sabe: nada de expressões agressivas e preconceituosas.