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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Mauricio de Sousa apresenta novos artistas


Todo mundo no Brasil que lê ou leu histórias em quadrinhos tem a Turma da Mônica em sua bagagem cultural. É quase impossível – a não ser, talvez, nos mais profundos rincões do país – encontrar alguém que não saiba quem é a dentuça Mônica, o Cebolinha com seus cinco fios de cabelo e o garoto que não gosta de banho chamado Cascão. As crianças do fictício bairro do Limoeiro já fazem parte do inconsciente coletivo do povo brasileiro a tal ponto que, mesmo aqueles que por ventura não leram ou não gostam das aventuras deles, conhecem as características e a personalidade da baixinha dentuça e seus parceiros, como se fossem velhos amigos de infância, de carne e osso.

Tudo começou quando, em 1959, Mauricio de Sousa publicou sua primeira tira de quadrinhos no jornal Folha da Manhã (hoje Folha de São Paulo). Inspiradas nas aventuras da Luluzinha, criada pela norte-americana Margie, suas HQs foram ganhando espaço e novos personagens, sendo republicadas em outros jornais do interior de São Paulo, ou em um caderno infantil dominical no veículo que as lançou, até ganhar notoriedade nacional com o lançamento da revista mensal da Mônica, em 1970, pela editora Abril. Atualmente, ele possui sua própria editora – a Maurício de Sousa Editora – e suas revistas em quadrinhos são responsáveis pela esmagadora maioria das vendas do mercado nacional. Seu mais recente projeto é um grande festival em 2013, que reunirá diversas expressões artísticas tendo a Turma da Mônica como tema. 

Hoje, ninguém questiona o fato de Mauricio ser o quadrinista de maior sucesso no país. Ele criou a Mauricio de Sousa Produções (MSP), um vasto conglomerado empresarial sem paralelo no Brasil, e colocou seus personagens na TV, no cinema no teatro e em CDs e jogos, além de estampar milhares de produtos e ter suas HQs publicadas em 40 países e 14 idiomas diferentes. Mas houve um período em que ele foi questionado por não ter feito mais pelo quadrinho nacional, que podia ter usado seu poder e sua influência para que outros quadrinistas também tivessem o mesmo destaque. Esse ponto de vista, porém, perdeu boa parte de sua sustentabilidade depois de 2009, com as comemorações dos 50 anos de atividade de Maurício de Sousa nos quadrinhos.

Para a comemoração, Sidney Gusman, editor de projetos especiais da MSP, propôs a Mauricio algo diferente: uma edição especial em que 50 quadrinistas nacionais iriam reinterpretar seus clássicos personagens. Maurício aceitou e o projeto deu tão certo que gerou mais dois álbuns, abrindo espaço para mais 100 artistas brasileiros darem suas versões aos seus personagens em HQ curtas. Assim surgiu “MSP 50 artistas”, “MSP + 50 Artistas” e “MSP 50 Novos Artistas”. O projeto foi selecionado pelo Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE), e levado para estudantes de todo o país.

Mais do que um produto comemorativo, esses três álbuns tornaram-se a porta de entrada para conhecer autores de todo o país com estilos diversos, entre nomes notórios – como Laerte, Ziraldo, Angeli, Rafael Albuquerque e os gêmeos Fabio Moon e Gabriel Bá – e outros conhecidos apenas dos leitores dos quadrinhos independentes – Antonio Eder, Vinicius Mitchell, Estevão Ribeiro e Mário Cau. Fechando cada álbum, minibiografias de cada um deles, com exemplos de trabalhos anteriores e endereços de projetos e de sites pessoais.

O projeto tornou-se a maior e mais ampla antologia de estilos, tanto de traços quanto de narrativa, do quadrinho brasileiro atual. Quem hoje quer saber o que o quadrinho brasileiro tem a oferecer, basta dar uma olhada nesses álbuns. E as HQs confirmam o que todos já sabiam: as referências, as leituras, os caminhos escolhidos pelos artistas para os personagens provam o quanto eles estão no imaginário de todos nós.

Arte de Mário Cau
 Um único álbum, com Maurício abrindo espaço para que outros autores mexessem em seus personagens sem se ater aos parâmetros estabelecidos por ele durante décadas, poderia ser visto como uma exceção, um momento raro em sua trajetória artística e empresarial. Mas ao publicar três álbuns com esta proposta, Maurício foi ainda mais longe: criou o selo Graphic MSP, em que os autores teriam espaço ainda maior para suas ideias. Cada um teria seu próprio álbum, que narraria uma única longa HQ. O primeiro foi lançado agora: Astronauta: Magnetar, por Danilo Beiruth, que produziu uma HQ com o Penadinho para o “MSP + 50 Artistas”.

Astronauta, o solitário explorador espacial que Maurício criara para concorrer com Buck Rogers e Flash Gordon, foi um dos personagens mais escolhidos pelos autores que participaram das três coletâneas anteriores. Suas HQs sempre foram introspectivas e filosóficas, mas aqui elas alcançam outro patamar. O trabalho de Beiruth é um poderoso reflexo sobre a solidão, onde ele mostra pleno domínio da narração e um ótimo conhecimento do personagem que retrata. A HQ nos remete ao mesmo personagem criado por Mauricio em 1963, mas o apresenta com um olhar amadurecido, uma versão adulta do herói com um visual e um roteiro que não deixa a desejar a nenhuma grande obra em quadrinhos de ficção científica. E o trabalho de cores de Cris Peter para o álbum merece congratulações à parte – é um verdadeiro deslumbre para os olhos.

Não existe melhor cartão de visita de quadrinista do que álbuns como este: uma HQ excelente, estrelada por personagens conhecidos, com qualidade gráfica impecável, nome do autor em destaque na capa, além de conter sua biografia, trabalhos anteriores e projetos futuros. É claro que este álbum abrirá caminhos para que o grande público e a grande mídia conheçam o autor e se interessem mais facilmente por seus outros trabalhos. Beiruth e o editor Sidney Gusman já deram entrevistas sobre a obra, já resenhada pela grande imprensa e até por sites internacionais de quadrinhos.

E a coisa não para mais. Já foram divulgados os próximos álbuns do selo: “Turma da Mônica”, dos irmãos Victor e Lu Caffagi; “Chico Bento”, de Gustavo Duarte; e “Piteco”, de Shiko. Artistas conceituados, mas que o grande público não conhece. A MSP já lançou também “Ouro da Casa”, outro álbum em que Maurício dá aos artistas que trabalham em seu estúdio a mesma chance de trabalhar com seus personagens abandonando as regras que sempre tiveram de seguir. Cada um podia utilizar seu próprio traço e viajar nos roteiros.

Podemos dizer que uma nova era começou nos quadrinhos do Brasil. Logo, esses autores estarão começando a colher os frutos dessas apresentações que certamente serão referência em seus currículos. E Maurício de Sousa, além de mais conhecido quadrinista do Brasil, será lembrado também como incentivador de novos e grandes talentos.

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