Todo mundo no Brasil que lê ou leu histórias em
quadrinhos tem a Turma da Mônica em sua bagagem cultural. É quase
impossível – a não ser, talvez, nos mais profundos rincões do país – encontrar
alguém que não saiba quem é a dentuça Mônica, o Cebolinha com seus cinco fios
de cabelo e o garoto que não gosta de banho chamado Cascão. As crianças do
fictício bairro do Limoeiro já fazem parte do inconsciente coletivo do povo
brasileiro a tal ponto que, mesmo aqueles que por ventura não leram ou não
gostam das aventuras deles, conhecem as características e a personalidade da
baixinha dentuça e seus parceiros, como se fossem velhos amigos de infância, de
carne e osso.

Hoje, ninguém questiona o fato de Mauricio ser
o quadrinista de maior sucesso no país. Ele criou a Mauricio de Sousa Produções
(MSP), um vasto conglomerado empresarial sem paralelo no Brasil, e colocou seus
personagens na TV, no cinema no teatro e em CDs e jogos, além de estampar
milhares de produtos e ter suas HQs publicadas em 40 países e 14 idiomas
diferentes. Mas houve um período em que ele foi questionado por não ter feito
mais pelo quadrinho nacional, que podia ter usado seu poder e sua influência
para que outros quadrinistas também tivessem o mesmo destaque. Esse ponto de
vista, porém, perdeu boa parte de sua sustentabilidade depois de 2009, com as
comemorações dos 50 anos de atividade de Maurício de Sousa nos quadrinhos.

O projeto tornou-se a maior e mais ampla
antologia de estilos, tanto de traços quanto de narrativa, do quadrinho
brasileiro atual. Quem hoje quer saber o que o quadrinho brasileiro tem a oferecer,
basta dar uma olhada nesses álbuns. E as HQs confirmam o que todos já sabiam: as
referências, as leituras, os caminhos escolhidos pelos artistas para os
personagens provam o quanto eles estão no imaginário de todos nós.
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Arte de Mário Cau |
Astronauta, o solitário explorador espacial que
Maurício criara para concorrer com Buck Rogers e Flash Gordon,
foi um dos personagens mais escolhidos pelos autores que participaram das três
coletâneas anteriores. Suas HQs sempre foram introspectivas e filosóficas, mas
aqui elas alcançam outro patamar. O trabalho de Beiruth é um poderoso reflexo
sobre a solidão, onde ele mostra pleno domínio da narração e um ótimo
conhecimento do personagem que retrata. A HQ nos remete ao mesmo personagem
criado por Mauricio em 1963, mas o apresenta com um olhar amadurecido, uma
versão adulta do herói com um visual e um roteiro que não deixa a desejar a
nenhuma grande obra em quadrinhos de ficção científica. E o trabalho de cores
de Cris Peter para o álbum merece congratulações à parte – é um verdadeiro
deslumbre para os olhos.
Não existe melhor cartão de visita de quadrinista
do que álbuns como este: uma HQ excelente, estrelada por personagens
conhecidos, com qualidade gráfica impecável, nome do autor em destaque na capa,
além de conter sua biografia, trabalhos anteriores e projetos futuros. É claro
que este álbum abrirá caminhos para que o grande público e a grande mídia conheçam
o autor e se interessem mais facilmente por seus outros trabalhos. Beiruth e o
editor Sidney Gusman já deram entrevistas sobre a obra, já resenhada pela
grande imprensa e até por sites internacionais de quadrinhos.
E a coisa não para mais. Já foram divulgados os
próximos álbuns do selo: “Turma da Mônica”, dos irmãos Victor e Lu
Caffagi; “Chico Bento”, de Gustavo Duarte; e “Piteco”, de Shiko. Artistas
conceituados, mas que o grande público não conhece. A MSP já lançou também
“Ouro da Casa”, outro álbum em que Maurício dá aos artistas que trabalham em
seu estúdio a mesma chance de trabalhar com seus personagens abandonando as
regras que sempre tiveram de seguir. Cada um podia utilizar seu próprio traço e
viajar nos roteiros.
Podemos dizer que uma nova era começou nos
quadrinhos do Brasil. Logo, esses autores estarão começando a colher os frutos
dessas apresentações que certamente serão referência em seus currículos. E
Maurício de Sousa, além de mais conhecido quadrinista do Brasil, será lembrado
também como incentivador de novos e grandes talentos.
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