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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A mecânica de um coração

No último ALCast, o pessoal falou de músicas em outras línguas e logo pensei na banda francesa Dionysos, que conheci através de um amigo, algum tempo antes de vir para a França, e cujo La mécanique du coeur gostei bastante.

O interessante desse álbum é a sua história: ele é como uma transcrição de um livro escrito pelo vocalista da banda, Mathias Malzieu, quase como uma trilha sonora, e os personagens são interpretados por cantores convidados. A lista inclui alguns títulos em inglês, o que não é de todo estranho no mercado francês (Phoenix está aí para provar que os músicos franceses não são de todo repelidos pela anglofonia).


E as particularidades não param aí: em outubro, está programado para sair na França o filme baseado no combo livro + CD, dirigido por Luc Besson. Ainda sem trailer disponível, contará em animação a história de um garoto, Jack, nascido em Edimburgo no dia mais frio do mundo em 1874, o que deixa seu coração gelado. A parteira responsável pelo nascimento, para salvá-lo, troca seu coração por um relógio, que garantirá sua vida desde que ele não experimente emoções fortes - inclusive, e especialmente, a paixão forte. Como toda história de amor interditado, Jack se apaixona por uma jovem e a busca por ela o leva até a Espanha.

Mesmo que o filme não chegue ao Brasil (como é até hoje o caso do encantador Un monstre à Paris), vale a pena procurar o álbum e acompanhar a história de Jack. A primeira música que ouvi do álbum foi Tais-toi mon coeur, com a participação de Olivia Ruiz, cantora franco-espanhola que interpreta o objeto da afeição de Jack - e que é a companheira de Mathias.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AlCast 008: Música e História



Lunáticos, ouvintes e leitores, está no ar o oitavo episódio do AlCast! Nesta semana, Brenno Quadros, Lica Tito, Thiago Ortman e Victor Mattina conversam sobre música e história, gostos pessoais opiniões e percepções do universo musical.

Lembrando que, caso você queira participar via Skype do próximo AlCast, tudo o que você precisa fazer é deixar seu contato nos comentários.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pergunta: o que estas bandas têm em comum?

O oriente ainda nos é relativamente desconhecido e nem mesmo o google ajuda muito quando precisamos digitar coisas em mandarim, coreano ou japonês. Precisamos instalar uma série de arquivos para que nossos teclados sejam capazes de inserir uma busca por ナンバーガール, 로로스 ou 万能青年旅店. Se ao invés de katakana, chinês tradicional ou hangul você está vendo quadradinhos ou alguma coisa que não se pareça com um idioma, você entendeu o que estou querendo dizer.

Talvez por esse motivo a maioria das bandas orientais adotem nomes em inglês e você procurando pacientemente por bandas coreanas, japonesas e chinesas vai esbarrar em coisas como:

1) Supercar: certamente uma banda que tenho em minha lista das melhores de todos os tempos. Shoegazers, mas nem tanto. Eletrônicos, mas nem tanto. Este vídeo é o início do último show da banda.


2) Number Girl: hoje esta banda também não existe mais e o ex-vocalista dela, Mukai Shutoku, é o frontman da incrível ‘Zazen Boys’. Este vídeo, assim como o de Supercar, é do último show da banda. (pulem para 02:49 para ouvirem a música)


3) Afrirampo: uma dupla de meninas japonesas conhecidas como Oni (um demônio do youkai) e Pikachu (aquele mesmo). Caramba, essa banda também já acabou, mas fazia uma barulheira considerável e por oito anos destruiu os tímpanos dos incrédulos.


4) Huckleberry Finn: uma banda coreana que achei por acidente há uns 8 anos atrás. Qual acidente eu não lembro, não deve ter sido nada sério. Este grupo existe desde meados dos anos noventa até hoje.


5) Vidulgi Ooyoo: coreanos e o gênero shoegaze conversam como se tivessem se conhecido na semana passa. Isto é uma boa coisa, se você gosta de ver bandas crescendo aos pouquinhos em meio a delays, reverbs e distorções.


6) Duck Fight Goose: faltam palavras para descrever a sonoridade dos xangaienses Duck Fight Goose. Vale a pena ouvir o disco para entender o que tanto me impressiona, mas ao vivo uns chamam de math-rock experimental ou qualquer emaranhado de palavras que simplifique isto:


7) SUBS: Kang Mao, apelido para a vocalista que significa “gata briguenta”, pegou seus trapos, juntou seus amigos, deu uma banana para a censura do governo vigente e foi gritar pela China, cobrindo 22 cidades em 37 dias. Com um gás que deixaria muito marmanjo de queixo no chão, SUBS é uma porrada bem dada.


Ao que chegamos a pergunta – então o que é mesmo que estas bandas têm em comum?
Excelente, não é mesmo?

Ilustração de Daniel Og

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Quando a música é personagem

Muitas vezes, quando lembramos de certos filmes, o que nos vem de imediato à mente é “aquela” cena com “aquela” trilha. A música tem esse poder e, quando resulta numa sequência onde o casamento entre imagem e som acontece perfeitamente, fica difícil esquecer. Não importa se é original e especialmente criada para o filme ou se o diretor foi sagaz o suficiente para fazer bom uso de músicas existentes, o interessante é que muitas vezes as trilhas se tornam tão importantes para a narrativa quanto a fala dos personagens.

John Williams, Nino Rota, Henri Mancini e Enio Morricone são compositores que sempre deixam sua marca impressa nos filmes. Mas também vale citar o diretor Stanley Kubrick com seu incrível talento para usar músicas clássicas de grandes compositores em seus filmes. Esse assunto vai longe, então vou ilustrá-lo com algumas escolhas pessoais.

Em 2001, Uma odisséia no espaço, Kubrick usou a música The Blue Danube Waltz, de Joahann Strauss. (clique aqui para assistir)

Quando ouvimos os acordes criados por John Williams em Tubarão, não precisamos nem ver o bicho para ficarmos assustados.


Traidos pelo desejo, de Neil Jordan, usa The crying game para apresentar o personagem de Jaye Davidson.


Há parcerias que se estendem por muitos anos e filmes, como David Lynch e Angelo Badalamenti, que parecem ter nascidos um para o outro.


Em Asas do desejo, do diretor Wim Wenders, o anjo apaixonado pela artista circense tem seu primeiro contato com o objeto humano de seu afeto ao som de The Bad Seeds, de Nick Cave.


A parceria da diretora francesa Claire Denis e da banda Tindersticks, que vem acontecendo por 15 anos, rendeu belíssimas cenas e até um álbum, Tindersticks claire denis film scores 1996-2009. Além disso, a banda fez uma turnê especial tocando apenas as trilhas feitas para os filmes da diretora.


E Tarantino não poderia ficar de fora. Desde seu primeiro filme, Cães de aluguel, o diretor criou cenas onde a música tem tanto apelo quanto os atores. Neste filme, a música de Steely Wheel, Stuck in the middle with you, parece ter sido concebida para a cena.


Em Pulp fiction, a personagem de Uma Thurman, Mia Wallace, dança ao som de Urge Overkill e a banda nunca mais seria esquecida graças a Tarantino. (clique aqui para assistir)

Tarantino dá tanta importância para a trilha sonora que até escreve cenas para inserir músicas em seus filmes, a última delas foi em Bastardos Inglórios. Ele havia declarado que sempre amou a música que David Bowie fez para o filme Cat People, de Paul Schrader, mas nunca concordou com o modo como o diretor a usou , jogando-a apenas nos créditos. Tarantino disse que essa música merecia uma cena de aproximadamente 20 minutos, e o foi o que ele fez para a personagem de Shosanna, vivida pela atriz francesa Melanie Laurent. Enquanto a moça prepara sua vingança, nos deleitamos com a belíssima Putting Out The Fire.