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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Cara, cadê minha exposição?

Andando pelas estações de metrô de Paris, passo por um cartaz do Louvre com a inconfundível faixa vermelha com letras brancas avisando: DERNIERS JOURS (últimos dias). Quando as últimas semanas de uma exposição temporária se aproximam, esses avisos se multiplicam pelos anúncios na cidade (em estações e ônibus, por exemplo), convocando os esquecidos ou os inadvertidos a aproveitar o que logo logo termina...

Confesso que tenho um prazer quase oculto e perverso de saber que pude visitar uma exposição temporária concorrida. Esse ano, foram três grandes: a Sainte Anne de da Vinci foi o tema central de uma no Louvre no primeiro semestre; a moda e o impressionismo ocuparam o Musée d'Orsay; e Rafael em seus últimos anos ocupa agora o salão de exposições temporárias do Louvre, até o início do ano que vem. Além da exposição sobre Tim Burton que foi montada na cinemateca de Paris.

Poder ver obras que geralmente ficam escondidas nos acervos técnicos ou em museus distantes é um dos pontos altos dessas exposições - exatamente como a que o d'Orsay trouxe para o Brasil, primeiro para São Paulo, depois para o Rio. Não tive a oportunidade de visitá-la, mas quem foi me garantiu que está primorosa - e ainda dá tempo de conferir (fica até dia 13 de janeiro)! O Centro Cultural do Banco do Brasil, aliás, é sempre uma boa pedida para quem gosta de exposições, e a arquitetura do prédio também vale uma visita por si só.
Foto da Paula, que foi à exposição
Mas a minha experiência mais marcante com museus e exposições no Rio - além das visitas constantes ao palácio imperial em Petrópolis, durante toda a minha infância - é a exposição temporária que trouxe Rodin para o Museu Nacional de Belas Artes. Lembro-me perfeitamente da movimentação na Cinelândia, da fila quilométrica dando a volta no quarteirão, e de ver, pela primeira vez, as obras do escultor que entrou para a minha lista de artistas plásticos preferidos.
Meu Rodin favorito (do ano): Le Baiser,  cerca de 1882, mármore
Foto do site do museu Rodin
É verdade que "visitar museu" não está na lista de atividades favoritas da maioria das pessoas que conheço. Mas, como disse logo aqui em cima, desde criança me divirto em passar horas andando por corredores e olhando através de vitrines ou examinando quadros (embora não seja fã de arte contemporânea, mas isso é outra história). É uma pena que, no Rio, onde temos tantos museus disponíveis, eles sejam na maior parte das vezes escondidos, desconhecidos ou mal-cuidados - ou as três coisas. Aí, vejo a fila e as estatísticas da exposição no CCBB, me lembro da minha filinha para ver Rodin... Sei que tem gente que vai nesses eventos simplesmente para dizer eu estive lá, sem se importar muito com o que está vendo ou deixando de ver. Mas acredito que uma parte significativa dos visitantes esteja realmente curtindo a experiência, aproveitando cada momento diante das obras que só conheceu através de reproduções em livros ou pela internet. Fica difícil dizer então que simplesmente não existe interesse por exposições, certo?

Não quero trazer soluções - longe de mim! Estou mais para Taz, do tipo que chega como um mini-furacão e sai bagunçando tudo pelo caminho. Mas acho que vale a pena a gente pensar no que faz o CCBB receber tantos visitantes em uma exposição como a trazida pelo d'Orsay e ficar, de uma maneira geral, bem vazio em suas salas da coleção permanente ao longo do ano. Ou então por que o Museu Nacional de Belas Artes, com um acervo tão rico, parece estar fora do radar da maior parte das pessoas que andam pelo centro da cidade.
Foto de Luis Guilherme, encontrada no flickr
A vontade de ver uma coleção de obras geralmente inacessíveis ao grande público brasileiro conta, e muito, para essa invasão de visitantes. É o impulso para presenciar o que logo logo não estará mais ali, enquanto o acervo permanente sempre dá a sensação de que podemos deixar para depois. Eu mesma me confesso culpada disso - é meu prazer secreto, lembra?

É engraçado. Falamos e repetimos que a arte (pelo menos a arte clássica, aquela do cânon) é imortal. "A arte imortaliza o artista!" "A verdadeira arte a tudo sobrevive!" E, mesmo assim, nós corremos para o museu quando a arte está anunciada como temporária e fugidia, e fazemos filas e tiramos fotos e postamos nos instagrams e twitters e facebooks sobre estar lá.
Eu disse que era culpada...
Ou seja: arte é legal. Mas é mais legal ainda quando ela vai embora dali a pouco.

domingo, 25 de novembro de 2012

“Because the Night”


Patricia Lee Smith nasceu em Chicago no dia 31 de dezembro, exatamente no dia em que o Presidente Harry Truman declarava oficialmente o fim da 2a. Guerra Mundial. Era uma segunda- feira, durante a nevasca de 1946. Primogênita de mais dois irmãos e filha de assalariados católicos que não pouparam seus filhos das obrigações religiosas, Patti rezava sempre antes de dormir, mas logo quis criar suas próprias rezas. Ela conta que seu amor pelas orações se transformou em amor por livros e que desde pequena ficava intrigada ao observar a mãe com um cigarro na boca e um livro no colo. Patti se indagava o que era aquilo que fazia sua mãe ficar tão imersa.

Foi ainda pequena que descobriu seu amor pelas arte e pela literatura. Também foi ainda criança que percebeu que não seria uma mulher como as que via nos anos 50 – de quem odiava o perfume e o batom. Patti já era  rebelde.

Quando eu tinha dezessseis anos, lembro de ler Patti falando sobre um livro que leu sobre o artista Diego Rivera e que ela ansiava por transitar entre os artistas: a fome, o modo de vestir e a liberdade. Em 1966, dispensada da faculdade, Patti tinha certeza que não seria professora. Nessa época, ela já amava os Beatles e os Rolling Stones. Patti queria se vestir como Dylan e Vanessa Redgrave em sua personagem no filme Blow Up!, de Michelangelo Antonioni (que aqui se chamou, argh, Depois daquele Beijo). 



Por algum motivo inexplicável, as roupas, a música e a rebeldia sempre me fascinaram. Foi através de filmes e livros que conseguia dar vasão à vontade de não fazer parte de um universo convencional. Também estudei em colégio católico, onde as preces eram obrigatórias, senão pontos eram tirados do boletim.

Em 1967, Patti decide que não dá mais pra ficar onde está e se muda para Nova York. Ela tinha certeza que era uma artista, embora não tivesse ensino formal na área. Aquele foi um ano importante para o rock, bandas como The Beatles, The Doors, The Who, Pink Floyd, Rolling Stones e The Velvet Underground & Nico estavam lançando seus álbuns, e as tropas americanas continuavam no Vietnam, aumentando o número de protestos contra a guerra.





Conheci a música Because the Night nos primórdios da MTV no Brasil, mas não era minha musa quem cantava, e sim Natalie Merchant, vocalista da banda 10.000 Maniacs. A melodia me hipnotizou. Foi graças a um amigo de longa data, uma espécie de oráculo da cultura pop, que conheci a versão de Patti. Num jantar em sua casa, ouvi a música na voz da mãe do punk pela primeira vez e ele me disse as seguintes palavras: "essa voz é da deusa mãe e o nome dela é Patti Smith". Ele sempre falava como se fosse o mestre dos magos, aquele baixinho careca do desenho “Caverna do Dragão”.





Já tinha ouvido falar da deusa mãe, nessa época, já havia lido Mate-me Por Favor – Uma História do Punk Sem Censura (L&PM), em que os escritores Legs McNeil E Gillian McCain reuniram entrevistas de personagens da época, como Iggy Pop, Debbie Harry, Nico e a própria Patti, para narrar o nascimento do Punk. Mas foi a partir desse dia que comecei meu relacionamento de amor com a musicista, poetisa e intéprete. E foi por causa de Patti que conheci o trabalho de Robert Mapplethorpe. Então, não pude conter minha ansiedade quando soube que ela lançaria um livro sobre o relacionamento dos dois.

Quando Só Garotos (Companhia das Letras) chegou às livrarias, corri para comprar, li em um dia e chorei quando terminou. Foi por conta dessas muitas memórias e uma promessa feita a Robert, que Smith lançou o livro contando a história dos dois. A história é épica e também aconteceu no verão de 1967.

Patti estava em Nova York, desempregada, dormia em qualquer lugar e passava sua noite observando os cabeludos, com suas calças boca sino andando pelas calçadas. Finalmente, ela conseguira um emprego de caixa numa livraria. Lógico que ela prefiria ter ficado entre os poetas, mas foi vendendo as bugingangas que ficavam no caixa que ela cruzou com o grande amor da sua vida, Robert Mapplethorpe.


Assim teve início uma das grandes lendas da contracultura americana. O casal que ultrapassaria todas os  modelos convencionais de parceria esperados pela sociedade: eram amigos, conspiradores, parceiros de noite, dividiam o mesmo teto e lutavam pelos mesmos ideais. Ainda vestido no uniforme de estudante católico, o futuro artista comprou um colar que parecia ser persa. E que se tornaria a peça favorita de Patti.

Os dois viriam a se reencontrar novamente por acaso numa praça, quando Robert já não usava gravata e vestia um colete de pele de ovelha e vários colares. Desse momento em diante, a história dos dois engatava. Nesse dia eles dormiram juntos e tudo estava acertado: aquele seria o futuro deles, estariam sempre juntos.

Eles não tinham dinheiro, mas tinham um ao outro. Passavam os dias ouvindo música, cercados por livros e revistas de arte. O colar persa era um amuleto que pertencia ao universo dos amantes, ficava com quem precisasse mais dele.

Fiquei profundamente emocionada ao ver o tal colar no documentário sobre Patti, Dream of Life, lançado em 2008 e filmado ao longo de 10 anos, acompanhando a artista por onde ela fosse. No filme, podemos ver as relíquias do casal citadas no livro Só Garotos, além de fotos de Robert. Infelizmente o documentário não foi lançado em DVD no Brasil.



No final dos anos 60, os jovens tentavam fugir do reflexo da década anterior e do “modo de vida americano”, e Nova York era o lugar para fugir das conveções. Andy Warhol havia montado sua famosa “Factory”, existia o clube “CBGB´s”, onde os grandes e jovens músicos se apresentavam, e havia o Chelsea Hotel, onde todos os artistas moravam ou se encontravam. Foi no meio dessa Nova York em ebulição criativa e anti-guerra que Patti e Robert viveram, onde os artistas e desajustados se encontravam para dar início a uma das grandes mudanças na cena cultural mundial.

Musa de Robert, fotografada inúmeras vezes pelo companheiro, seria dele a capa do primeiro álbum de Patti, o super bem sucedido Horses.  Mapplethorpe viria a se tornar um dos maiores fotógrafos americanos, enquanto Patti Smith se tornaria um dos maiores ícones do rock n´roll, com sua poesia, sua voz e seu visual, admirado e copiado por muitos.



Patti se refere a Mapplethorpe como sua alma gêmea, mas sem ser cafona. Só Garotos acompanha a mudança da musicista, indo morar com quem seria seu marido e pai de seus filhos, o guitarrista da banda MC5, Fred “Sonic” Smith, e a união de Robert com seu companheiro de toda vida, Sam Waggstaff, que foi peça essencial para o desenvolvimento do fotógrafo na cena de arte até 1989, quando Robert morre de AIDS. Patti sempre é muito emocional quando fala da separação física dos dois, mas deixa claro que nunca houve separação espiritual.



A história dos dois mostra que não existem convenções para o amor e que quando garotos encontram sua cara-metade, eles devem se agarrar a ela por toda a vida.

sábado, 17 de novembro de 2012

Meu Lanterna Verde de mentira

Ontem, na hora do almoço, resolvi me distrair um pouco - nada como a internet no celular para esses momentos de solidão no meio do café da biblioteca - quando dei de cara com esse post no 9gag. A tirinha, da cartunista sailorswayze, coloca em cena a realidade de "um peso, duas medidas" quando o negócio é quadrinhos:
A mesma camiseta, dois gêneros
Mas, calma! Esse post não é sobre meninos e meninas, eu prometo. Talvez seja melhor eu recomeçar, então, com a seguinte frase: Adoro O Senhor dos Anéis, mas não tenho paciência para os livros.

No final das contas, é disso que quero falar: dá para ser fã sem conhecer o material original? Olha ali na tirinha, ele fala "read the comics" - então não dá para conhecer o Lanterna Verde através de algum outro meio? (Não, não estou defendendo o filme com o Ryan Reynolds, não feche a janela!)

Até bem pouco tempo atrás, o número de heróis DC que eu poderia citar de cabeça mal dava para encher uma mão. Sim, eu vi Super Amigos quando era criança, mas, tirando os Super Gêmeos, as minhas lembranças da série são muito, muito vagas. Hoje, Justice League Animated faz parte da minha lista de séries animadas favoritas, Hawkgirl está entre as minhas personagens femininas favoritas e...nunca li um mísero volume de quadrinho da DC na vida.
Justice League que eu conheço e Justice League que o Vinícius deve conhecer
Aí que entram os puristas e dizem que não posso ser fã assim. Eu até bradaria alto contra isso se nunca estivesse estado do outro lado da cerca: eu também - confesso - já duvidei do carinho alheio porque, afinal, não dá para apreciar Harry Potter através das simples adaptações!

Mas ninguém pode negar que o cinema e a televisão tenham um poder atrativo enorme e a Marvel, que não é boba, já entendeu bem o que isso significa em termos de $$. A sequência Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América mostrou que não só o público dos quadrinhos está aberto para adaptações que fujam do cânone clássico construído pelas histórias impressas, como há todo um novo público a ser conquistado, que se interessa pela mitologia e pelos personagens, mas que não quer ter que se dedicar a centenas de números de revistas para poder descobrir como, afinal, um deus nórdico e um playboy trilhardário juntam forças com outros para defender a Terra. Eu, certamente, prefiro ver Os Vingadores do Whedon uma centena de vezes.
E isso sem contar que o filme ainda tem Hawkeye e Blackwidow!
Então, se fãs novos e fãs antigos nem sempre conseguem se entender muito bem (e nem preciso dizer qual lado tende a implicar mais com qual, certo?), a verdade é que certas adaptações são simplesmente tão boas que fazem mais do que jus ao material original - às vezes elas são até mesmo melhores. O Drácula do Coppola me levou para o Drácula de Bram Stoker - e foi uma decepção. Outros exemplos de versões cinematográficas mais bem-sucedidas ou simplesmente melhores do que o material original não faltam: Dorothy e James Bond, por exemplo. Tubarão, aposto que tem gente que nem sabia que tinha sido um livro (escrito por Peter Benchley), e a mesma coisa com o (infelizmente) pouco conhecido A Princesa Prometida. E para não ficar só nos livros, Constantine pode ser bem diferente de sua fonte, mas é tão bom quanto.

Até o último filme de Crepúsculo, dizem, é melhor do que o original - o que prova que, às vezes, essa tarefa não é exatamente hercúlea.

Ah! E antes que me esqueça: como em tudo que tem a ver com ser fã envolve afetividade, o meu Lanterna Verde é John Stewart. O da animação, é claro.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Divagações sobre grades e fantasmas particulares


por Isabela Saboia



Tenho um gato e um cachorro. O gato morre de medo do cachorro e vice-versa, mas, quando um dos dois está preso, não há nada que o outro goste mais de fazer do que observá-lo. Separados por uma grade ou por uma porta de vidro, os bichos são capazes de passar horas se exibindo silenciosamente um para o outro. O cachorro parece que diz "Olha como eu sou grande e poderoso!". O gato parece que responde "Olha como eu sou limpo e independente!". É muito engraçado olhar pra eles: cada um convencido de sua própria superioridade existencial, mas ao mesmo tempo fascinado e hipnotizado pela presença (provocante e ameaçadora) do companheiro.

Outro dia, comecei a pensar sobre histórias de prisioneiros e imediatamente essa imagem me veio à cabeça. Queria entender o motivo pelo qual figuras como Prometeu ou Tântalo exercem tamanho magnetismo sobre nós. Basta que observemos o sucesso de livros como O Conde de Monte Cristo, O Estrangeiro ou O Diário de Anne Frank, para percebermos que a idéia de aprisionamento físico, ao mesmo tempo que nos traz sentimentos instantâneos de angústia e aversão, é muito atraente.

Antes que vocês façam confusão: não contei a história dos meus bichos porque os considero prisioneiros ou algo assim, mas porque acho "humaníssima" a mistura de medo e atração que eles sentem um pelo outro. Todos nós prezamos pela vida, pela confiança no próximo, pela facilidade de ir e vir. No entanto, "morte", "traição" e "prisão" são temas altamente recorrentes na nossa literatura. O homem morre de medo de ser assassinado, traído ou preso, mas ao mesmo tempo sente uma vontade constante de falar e ler sobre esses assuntos.

Daí, concluo que o livro cumpre o mesmo papel da grade ou das portas de vidro que separam o meu gato do meu cachorro: ele faz com que a gente toque nos medos sem de fato vivenciá-los; faz com que a gente sinta o gostinho dos nossos desejos mais perigosos e arriscados sem de fato nos oferecer perigo ou risco.

- Ora, senhor Freud, mas quem disse que eu algum dia desejei estar acorrentado feito Prometeu? Eu lamento profundamente o triste fim de Policarpo Quaresma, e jamais invejaria o coitado do Jean Valdjean, que, por ter roubado um pedaço de pão, passou 19 anos atrás das grades!

Ok, a gente pode até achar que a nossa vida é superior à desses caras e que eles são dignos de pena, mas precisamos assumir que eles possuem algumas características que todos gostaríamos de possuir. Em primeiro lugar, há a coragem que em determinado momento esses sujeitos tiveram para enfrentar as leis sociais e seguir os próprios instintos. Outra característica invejável dos enclausurados é a força, afinal eles precisaram aprender a conviver com o tédio, com a solidão e com os próprios fantasmas. Por mais paradoxal que possa parecer, quem está preso goza de uma liberdade que nós, fisicamente livres, jamais experimentaremos. Impedidos de viver feito gente normal, cheia de vínculos e obrigações cotidianas, os prisioneiros estão livres para - digamos - existir com mais fluência. Eles têm tempo para pensar a fundo sobre as coisas e para senti-las até o fim. Fora isso, quem está preso já não precisa dar satisfações a ninguém.

Há um pedacinho do meu gato que gostaria de enfrentar o meu cachorro, assim como há um pedacinho de nós que gostaria de ser preso. Mas é um pedacinho pequeno, e a gente é prudente, né? Livros, grades e portas de vidro são bons porque evitam bobagens.



Em tempo:  Meu cachorro, Zeca, tem umas alergias bizarras, que quando aparecem deixam partes de seu corpo em carne viva, causando fortes dores.  Dia desses, ele estava um bagaço, nem quis se alimentar.  Daí à noite eu fui dar uma olhada nos machucados e não acreditei no que vi.  Lembra daquele gato que nunca ultrapassava a grade?  Pois lá estava ele, do lado de cá, dormindo com o cachorro.  Achei a cena incrível e comovente e quis compartilhá-la.  Pena que, quando voltei com o celular, os dois já tinham desfeito a pose.




terça-feira, 6 de novembro de 2012

Mauricio de Sousa apresenta novos artistas


Todo mundo no Brasil que lê ou leu histórias em quadrinhos tem a Turma da Mônica em sua bagagem cultural. É quase impossível – a não ser, talvez, nos mais profundos rincões do país – encontrar alguém que não saiba quem é a dentuça Mônica, o Cebolinha com seus cinco fios de cabelo e o garoto que não gosta de banho chamado Cascão. As crianças do fictício bairro do Limoeiro já fazem parte do inconsciente coletivo do povo brasileiro a tal ponto que, mesmo aqueles que por ventura não leram ou não gostam das aventuras deles, conhecem as características e a personalidade da baixinha dentuça e seus parceiros, como se fossem velhos amigos de infância, de carne e osso.

Tudo começou quando, em 1959, Mauricio de Sousa publicou sua primeira tira de quadrinhos no jornal Folha da Manhã (hoje Folha de São Paulo). Inspiradas nas aventuras da Luluzinha, criada pela norte-americana Margie, suas HQs foram ganhando espaço e novos personagens, sendo republicadas em outros jornais do interior de São Paulo, ou em um caderno infantil dominical no veículo que as lançou, até ganhar notoriedade nacional com o lançamento da revista mensal da Mônica, em 1970, pela editora Abril. Atualmente, ele possui sua própria editora – a Maurício de Sousa Editora – e suas revistas em quadrinhos são responsáveis pela esmagadora maioria das vendas do mercado nacional. Seu mais recente projeto é um grande festival em 2013, que reunirá diversas expressões artísticas tendo a Turma da Mônica como tema. 

Hoje, ninguém questiona o fato de Mauricio ser o quadrinista de maior sucesso no país. Ele criou a Mauricio de Sousa Produções (MSP), um vasto conglomerado empresarial sem paralelo no Brasil, e colocou seus personagens na TV, no cinema no teatro e em CDs e jogos, além de estampar milhares de produtos e ter suas HQs publicadas em 40 países e 14 idiomas diferentes. Mas houve um período em que ele foi questionado por não ter feito mais pelo quadrinho nacional, que podia ter usado seu poder e sua influência para que outros quadrinistas também tivessem o mesmo destaque. Esse ponto de vista, porém, perdeu boa parte de sua sustentabilidade depois de 2009, com as comemorações dos 50 anos de atividade de Maurício de Sousa nos quadrinhos.

Para a comemoração, Sidney Gusman, editor de projetos especiais da MSP, propôs a Mauricio algo diferente: uma edição especial em que 50 quadrinistas nacionais iriam reinterpretar seus clássicos personagens. Maurício aceitou e o projeto deu tão certo que gerou mais dois álbuns, abrindo espaço para mais 100 artistas brasileiros darem suas versões aos seus personagens em HQ curtas. Assim surgiu “MSP 50 artistas”, “MSP + 50 Artistas” e “MSP 50 Novos Artistas”. O projeto foi selecionado pelo Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE), e levado para estudantes de todo o país.

Mais do que um produto comemorativo, esses três álbuns tornaram-se a porta de entrada para conhecer autores de todo o país com estilos diversos, entre nomes notórios – como Laerte, Ziraldo, Angeli, Rafael Albuquerque e os gêmeos Fabio Moon e Gabriel Bá – e outros conhecidos apenas dos leitores dos quadrinhos independentes – Antonio Eder, Vinicius Mitchell, Estevão Ribeiro e Mário Cau. Fechando cada álbum, minibiografias de cada um deles, com exemplos de trabalhos anteriores e endereços de projetos e de sites pessoais.

O projeto tornou-se a maior e mais ampla antologia de estilos, tanto de traços quanto de narrativa, do quadrinho brasileiro atual. Quem hoje quer saber o que o quadrinho brasileiro tem a oferecer, basta dar uma olhada nesses álbuns. E as HQs confirmam o que todos já sabiam: as referências, as leituras, os caminhos escolhidos pelos artistas para os personagens provam o quanto eles estão no imaginário de todos nós.

Arte de Mário Cau
 Um único álbum, com Maurício abrindo espaço para que outros autores mexessem em seus personagens sem se ater aos parâmetros estabelecidos por ele durante décadas, poderia ser visto como uma exceção, um momento raro em sua trajetória artística e empresarial. Mas ao publicar três álbuns com esta proposta, Maurício foi ainda mais longe: criou o selo Graphic MSP, em que os autores teriam espaço ainda maior para suas ideias. Cada um teria seu próprio álbum, que narraria uma única longa HQ. O primeiro foi lançado agora: Astronauta: Magnetar, por Danilo Beiruth, que produziu uma HQ com o Penadinho para o “MSP + 50 Artistas”.

Astronauta, o solitário explorador espacial que Maurício criara para concorrer com Buck Rogers e Flash Gordon, foi um dos personagens mais escolhidos pelos autores que participaram das três coletâneas anteriores. Suas HQs sempre foram introspectivas e filosóficas, mas aqui elas alcançam outro patamar. O trabalho de Beiruth é um poderoso reflexo sobre a solidão, onde ele mostra pleno domínio da narração e um ótimo conhecimento do personagem que retrata. A HQ nos remete ao mesmo personagem criado por Mauricio em 1963, mas o apresenta com um olhar amadurecido, uma versão adulta do herói com um visual e um roteiro que não deixa a desejar a nenhuma grande obra em quadrinhos de ficção científica. E o trabalho de cores de Cris Peter para o álbum merece congratulações à parte – é um verdadeiro deslumbre para os olhos.

Não existe melhor cartão de visita de quadrinista do que álbuns como este: uma HQ excelente, estrelada por personagens conhecidos, com qualidade gráfica impecável, nome do autor em destaque na capa, além de conter sua biografia, trabalhos anteriores e projetos futuros. É claro que este álbum abrirá caminhos para que o grande público e a grande mídia conheçam o autor e se interessem mais facilmente por seus outros trabalhos. Beiruth e o editor Sidney Gusman já deram entrevistas sobre a obra, já resenhada pela grande imprensa e até por sites internacionais de quadrinhos.

E a coisa não para mais. Já foram divulgados os próximos álbuns do selo: “Turma da Mônica”, dos irmãos Victor e Lu Caffagi; “Chico Bento”, de Gustavo Duarte; e “Piteco”, de Shiko. Artistas conceituados, mas que o grande público não conhece. A MSP já lançou também “Ouro da Casa”, outro álbum em que Maurício dá aos artistas que trabalham em seu estúdio a mesma chance de trabalhar com seus personagens abandonando as regras que sempre tiveram de seguir. Cada um podia utilizar seu próprio traço e viajar nos roteiros.

Podemos dizer que uma nova era começou nos quadrinhos do Brasil. Logo, esses autores estarão começando a colher os frutos dessas apresentações que certamente serão referência em seus currículos. E Maurício de Sousa, além de mais conhecido quadrinista do Brasil, será lembrado também como incentivador de novos e grandes talentos.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Tim Walker e Mel Bochner em Londres


Está aberta a retrospectiva do artista plástico Mel Bochner, na Whitechapel Gallery, em Londres. A exposição, que segue seu rumo para Munique e depois para o Porto, no ano que vem, traz tanto trabalhos recentes como alguns dos mais icônicos de sua carreira.

“Blah Blah Blah”, de 2011, é o primeiro quadro a dar as boas-vindas, embora a repetição das palavras em letras garrafais deixem a dúvida se o artista quer mesmo deixar o visitante entrar. As cores vibrantes, no entanto, soam convidativas - ou seriam mais um sinal da saturação do artista?

Blah Blah Blah, 2011
Em um espaço reservado no chão, quatro aglomerados de jornal pintados com tinta azul montam, desmontam e remontam a forma do quadrado, na obra “Theory of Painting”, de 1970. 

Theory of Painting, 1970
Mas nenhum outro trabalho de Bochner despertou mais a minha curiosidade que “Misunderstandings (A theory of photography)”, de 1970. No quadro, nove retângulos de papel trazem nove citações diferentes, todas relacionadas ao significado da fotografia. Dessas nove, porém, três são falsas. No canto do quadro, o que parece ser o negativo da polaroid “Actual Size (Hand)”, de 1968, é mais uma indicativa da contradição da obra: polaroids não tem negativos, deixando no ar a dúvida quanto a veracidade da imagem fotográfica. 

Partes soltas de "Misunderstandings - A theory of Photography", de 1970
Sobre esse trabalho em particular, Bochner explicou que, por volta de 1967, percebeu que seu trabalho estava se aproximando cada vez mais do universo fotográfico. Na intenção de entender um pouco mais, começou a pesquisar o que já tinha sido dito sobre o assunto, mas surpreendeu-se ao achar tudo uma “baboseira”. Então começou a tomar notas de tudo o que julgava “mal-entendido”, mas ainda não sabia como transformar as citações em trabalho. Foi depois de algum tempo tentando ter as frases publicadas que Bochner recebeu um convite de Marian Goodman, em 1970, para expôr o trabalho. 

A discussão sobre o que é, foi ou deixa de ser fotografia continuou em uma outra galeria de Londres, durante a exposição  “Tim Walker: Story Teller”, na Somerset House. O fotógrafo é mundialmente conhecido pelas imagens oníricas, de cores apasteladas e objetos gigantes que vem colorindo as edições da Vogue, Vanity Fair entre outras, mês após mês, há cerca de uma década. A exposição traz algumas das fotos mais recentes da carreira do artista e é acompanhada pelo lançamento do livro pela editora Thames & Hudson, cujo título é o mesmo da exposição.

Nas paredes da Somerset, algumas reflexões do próprio Tim não deixam “mal-entendidos”, como as citações de Bochner, embora também passe longe de tentar "definir" o que é ou deixa de ser o objeto fotográfico:  "Para mim, a fotografia é muita mais forte quando a ideia é sugerida, ao invés de algo definido. Quando a ideia já está definida, não tem muito para onde a imaginação correr".

Estão também disponíveis partes do cenário de alguns de seus ensaios, como o avião de madeira quase em tamanho real do tipo “Spitfire”, que abre a exposição.  O set para a Vogue inglesa, edição de 2009, foi inspirado no filme “A Matter of Life and Death”, um clássico de 1946. Também fazem parte da visita um boneco gigante, um barco de madeira em forma de cisne e algumas outras “invencionices” que compõem seus cenários. Coisas que não teriam lá muito apelo em outra exposição - mas é que aqui, no mundo de Tim, tudo fica especial.

A modelo Lily Donaldson e o avião Spitfire, 2009

A réplica do avião Spitfire, quase em tamanho real, na Somerset House
Também um vídeo de não mais de 15 minutos trás uma compilação de making-offs, fashion films e pura poesia em alguns de seus sets mais recentes, tendo como ponto-alto Tim dirigindo os cinco cavalheiros remanescentes do Monty Python, durante uma sessão de fotos para a Vanity Fair, em 2009.

Os cinco Monty Python para a Vanity Fair, em 2009
Acompanho o trabalho do fotográfo há uns bons anos e devo admitir que tinha começado a achar  tudo um pouco cansativo. Parecia que ele tinha encontrado a “fórmula mágica” e vinha usando os mesmos artíficios desde então. Mas me surpreendi ao encarar um Tim Walker em progresso. Muitas de suas fotos mais recentes trazem menos elementos, mas sem perder a áurea fantasiosa dos trabalhos anteriores. O ensaio com a modelo Agyness Deyin (link abaixo), na Namibia, em 2011, é um exemplo da entrada de Tim no mundo adulto: fantasia, mas na medida. 


Também destacaria os portraits como um dos pontos altos da exposição: Alexander McQueen e Tilda Swinton, entre outros, ganharam um toque (sutil) de magia sob as lentes do fotógrafo. 

Alexander McQueen, em 2009
Tilda Swinton para a W Magazine, em 2011

Para aqueles que estarão de passagem por Londres nesse fim de ano, a exposição de Mel Bochner fica até 30 de dezembro, e a de Tim Walker até 27 de janeiro do ano que vem. Mais informações em http://www.whitechapelgallery.org/exhibitions/mel-bochner-if-the-colour-changes (Bochner) e http://www.somersethouse.org.uk/visual-arts/tim-walker-story-teller (Tim Walker)

domingo, 21 de outubro de 2012

Minhas 10 donzelas nada em perigo

Depois de escrever sobre a nova donzela em perigo, nada mais justo do que fazer uma menção às minhas personagens favoritas. Fazer uma lista é sempre complicado: essa reflete basicamente o meu estado de espírito atual e provavelmente seria bastante diferente daqui a alguns meses – ou alguns meses atrás. Então, eis a primeira parte do meu...




...TOP 10: personagens femininas.

10. A pistoleira
Não basta ser mulher: tem que ser jovem, negra, não ter as duas pernas e viver nos anos 60 americanos. Susannah Odetta Holmes (A Torre Nega, Stephen King, 1982-2004) não só consegue sobreviver a esse quadro nada favorável, como sobrevive também a um mundo com demônios, trens assassinos, espíritos malignos, aranhas gigantes, vampiros, feiticeiros e robôs mentirosos – tudo isso em uma cadeira de rodas.





9. A bailarina
Ahiru é uma estudante em uma escola de balé, que sofre na mão de seu professor-gato (literalmente, do tipo que mia e arranha coisas) pela falta de talento para a coisa. Mas na verdade, ela é uma excelente bailarina – ou pelo menos sua identidade secreta, a Princess Tutu é (Princess Tutu, Ikuko Itoh, 2002-2003). Tutu tem uma missão: recuperar as partes do coração de um príncipe, que foram espalhadas pelo mundo quando ele selou um grande demônio corvo. Se Tutu é a dançarina delicada e graciosa que não faria feio em palco algum (ainda que destemida), Ahiru é destrambelhada e péssima com as palavras – e extremamente adorável. A história, voltada para um público assumidamente infantil, não impede que ela seja igualmente apreciada por quem já “passou da idade” - afinal, quem não gosta de um pas de deux?


8. A mãe
Ter sete filhos não deve ser moleza. Se dois deles forem Fred e George, o desafio deve ser o dobro. E, mesmo assim, todo mundo só parece se lembrar dos dotes de tricô ou de culinária de Molly Weasley (Harry Potter, J.K. Rowling, 1997-2007). Ok, ela é a grande figura maternal de Harry Potter, e é na casa dela que Harry vivencia, pela primeira vez, o que é realmente viver em família em um lar. Ah, e ela ainda vai com a família para a maior batalha bruxa dos últimos tempos e, mesmo depois de perder um dos filhos, ainda mata Bellatrix Lestrange. Nada mal...



7. A chapeleira
Tenho uma teoria de que todo mundo tem um Myiazaki favorito – você só não descobriu ainda. O meu é O castelo animado de Howl (Hayao Myiazaki, 2004). E sim, eu sei que tecnicamente não é 100% Myiazaki e que, já que vou colocar a origem na lista, deveria ter colocado “Diana Wynne Jones”. Mas é da interpretação do filme que estou falando, e é dessa Sophie Hatter que eu gosto. Gosto de quão delicada e suave ela é, e o quão corajosa ela não deixa de ser por causa disso. Se ser transformada em velha ainda não fosse o bastante, ela ainda conhece um bruxo com fama de comer o coração de donzelas e um demônio feito de fogo. E não tem medo de nenhum dos dois.


6. A líder
Exímia espadachim e uma ótima atiradora, Integra Fairbrook Wingates Hellsing (Hellsing, Kouta Hirano, 1997-2008) é chefe da organização secular que leva sobrenome de sua família, submetida à própria rainha da Inglaterra, especializada em caçar vampiros, ghouls e outras criaturas do gênero. Sua arma mais poderosa e mais confiável não é nem sua espada nem sua pistola: sob seu comando, ela tem ninguém menos que Alucard, também conhecido como conde Vlad, o empalador. Com um senso de honra e dever dignos de cavaleiro arturiano, Integra tem a nada fácil tarefa de controlar seu psicopata particular enquanto lida com a dupla ameaça do Vaticano e de vampiros artificiais criados por nazistas.


5. A espiã
No início do filme, ela recebe uma ligação, no meio de um trabalho e...Os Vingadores (Joss Wheedon, 2011) são formados. Natasha Romanoff – ou a Viúva Negra – está cercada de coisas bem maiores do que ela, como um herói da Segunda Guerra encontrado no gelo polar, um trilhardário super-inteligente, um monstro verde gigante e um deus, e ela nunca perde a compostura. Aliás, nem com uma perna quebrada ela para. Isso sem contar que, aparentemente, ela é a única capaz de trapacear o próprio deus da trapaça.



4. A super-heroína
Confesso que conheço provavelmente 1% do mundo dos quadrinhos, e seria covardia tentar encontrar uma heroína no mundo DC. A minha escolha é a Mulher Gavião (Liga da Justiça, 2001-2004) – e não a Mulher Maravilha. (Aliás, a DC poderia tentar variar um pouco mais esses nomes, não? Enfim...) Ela é cabeça quente e acha que não há problema que não possa ser resolvido ou informante que não possa ser coagido pelo mero uso da força. Com esse kit nem um pouco “tradicional”, ela não fica tão longe de outras, inclusive de sua colega amazona. Por que ela ganha? Em um episódio, quando a Mulher Maravilha cogita que o mundo, de fato, poderia ser melhor sem homens, a resposta da Mulher Gavião é precisa: Não critique até ter experimentado, amiga. Com atitude e sem medo de ser feliz.


3. A vilã
Fora do papel de madrasta, parece que as vilãs são raras. As do tipo que têm um histórico e desenvolvimento ao longo da série, mais raras ainda. E então aparece Azula (Avatar: a lenda de Aang, 2005-2008), a filha favorita do Senhor do Fogo. Supostamente, seu pai é o grande vilão da história, mas é com ela que eu me preocuparia: ela é uma mestre do fogo excepcional. Você conseguiu cancelar isso? Ela é uma ótima lutadora? Conseguiu imobilizá-la? Ninguém é melhor manipulador do que ela. Além de ser uma ameça tripla, Azula ainda tem duas melhores amigas e fiéis escudeiras praticamente ninjas. Ela não quer o segredo da beleza eterna; ela quer algo simples, básico e facilmente compreendido: ser a justa herdeira de seu pai...depois de matar seu irmão e todos aqueles que significarem qualquer tipo de resistência a ela, é claro.


2. A mecânica
Ela tinha tudo, tudo para dar “errado”: a adolescente loira de olhos azuis que aparece mais do que frequentemente com tops curtíssimos e é o interesse romântico do protagonista (ainda que ele não saiba disso desde o início). Mas Winry Rockbell (Fullmetal Alchemist: Brotherhood, 2009-2010) faz jus ao elenco e à história na qual está. Desde criança, ela demonstrou um talento excepciona para a mecânica dos automails (as próteses de metal que substituem membros – e que são abundantes) e é ela quem cuida da perna esquerda e do braço direito de Edward quando os aparelhos se desfazem (literalmente, algumas vezes). Mais do que mecânica, ela se coloca em situações terríveis (como se deixar ser capturada por um psicopata) porque sabe que aquilo será útil aos heróis. Além disso, ela é órfã de guerra e já teve sua cota de mortes vistas cumprida há tempos, e ainda assim consegue ser otimista, divertida e carinhosa – especialmente em um mundo onde parece que essas virtudes não têm mais lugar.


1. A vampira
Anno Dracula (Kim Newman, 1992) está no meu top 5 livros favoritos – e definitivamente é minha história de vampiros favorita. Geneviève Dieudonnée é uma senhora de 600 anos presa em um corpo adolescental em uma Londres onde – o horror! - Dracula não só sobreviveu ao final do romance de Stoker como se casou com a rainha da Inglaterra. E onde prostitutas vampiras começam a aparecer mortas pelas mãos de Jack o Estripador. Geneviève se envolve nessa trama para tentar solucionar o mistério dos assassinatos e acaba conseguindo bem mais do que esperava no meio tempo. Tudo que você pode esperar em uma heroína vampira em um livro doido como esse: mesmo em seus momentos mais tenros, Geneviève é assustadora, ou estranha, ou simplesmente perigosa.

Menção honrosa: praticamente todo o elenco feminino de Fullmetal Alchemist poderia estar nessa lista. No final das contas, tentei colocar apenas uma representante de cada obra/franquia, para tentar manter a brincadeira mais variada.

Críticas? Sugestões? Discordâncias? 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Radiohead em Strasbourg


Faz dois dias que assisti ao show do Radiohead e acabo de voltar a Londres, onde comecei recentemente meu mestrado. Aproveitei a passagem pela França para jantar com dois companheiros do Aventura de Ler, Juliana Giglio e Caio Santiago, que após lerem minha saga, me acusaram de “fanática” e “tiete”.  Como comecei o post anterior afirmando nunca ter sido “tiete de banda”, aqui vai a minha justificativa (depois, claro,eu conto do show!):

Escolhi o Thom Yorke como objeto de estudo para o meu projeto de graduação de faculdade, em 2011. Não só por causa da música, que na época eu mal conhecia, mas como pesquisava artistas que dialogassem com a causa ambiental, fiquei interessada ao saber que ele era vegetariano e que a banda tinha lançado o In Rainbows, em 2008, na internet, disponibilizando o CD para download. Mas foi após assistir ao documentário Meeting People is Easy, filmado durante a turnê de OK Computer, em 1998, que eu realmente me interessei pela banda.


O documentário começa com a música Fitter Happier (“Melhor Encaixado E Mais Feliz”) ao fundo, enquanto uma câmera se move mostrando os trilhos do trem, em preto e branco, lembrando as primeiras cenas de Zentropa, de Lars Von Trier. A relação entre Thom Yorke e Lars me deu arrepios. A letra de Fitter Happier descreve a rotina de uma pessoa convencional, e poderia ser uma letra convencional se não fosse o piano dramático ao fundo e o próprio fato de estar sendo cantada pelo Thom - pessoa nada convencional. 

Ao contrário do que o título da música poderia sugerir, grande parte das letras da banda abordam temas como existencialismo e alienação. Muitas questionam o relacionamento das pessoas com a tecnologia, especialmente em OK Computer, o que só fez aumentar o meu interesse pela banda. Mas como o autor de Radiohead and Philosophy coloca, “mesmo com essa visão suspeita da tecnologia, Radiohead mantém credibilidade especial nessa área pela forma como incorporam ferramentas tecnológicas de maneira criativa”. Apesar do sentido “introspectivo”, “depressivo” e por vezes “alienado” atribuídos às letras da banda, Radiohead é uma banda atual.

A mistura da banda com a modernidade fica ainda mais evidente ao vê-los tocar. A turnê de 2009, que os levou ao Brasil, foi surpreendente pelos efeitos de iluminação no palco, que misturava elementos cenográficos à LEDs coloridos, desenvolvidos especialmente para os shows. Segundo o gerente de produção da turnê, Richard Young, o sistema foi pensado para economizar o máximo de energia possível, dando às apresentações uma pegada mais “ambiental”. 

A turnê de divulgação do King of Limbs, essa de 2012, não usou o mesmo sistema de iluminação, mas também não deixou de contribuir com algumas iniciativas ecologicamente responsáveis. Ao entrar na cúpula alaranjada que é o Zénith, a casa de shows em Strasbourg, a primeira imagem que vi foi um urso polar de pelúcia em tamanho real, em um stand montado pelo Greenpeace que recolhia assinaturas para a campanha Save the Artic. Um vídeo colaborativo entre Yorke e o Greenpeace, com narrativa de Jude Law, lançado em julho, mostra um urso procurando comida nas ruas de Londres e chama a atenção para o derretimento das calotas polares:



(se alguém quiser assinar a petição, eis o site: http://www.savethearctic.org/
não custa nada, vai. Os ursos são fofos e merecem a nossa atenção.)

Tanto as camisetas oficiais da banda, que também estão disponíveis no site, quanto a cerveja que é vendida no bar refletem os princípios da banda. Todas as peças são feitas com algodão orgânico e poliéster reciclado, e para cada bebida servida, o espectador deixava um euro pelo copo, que podia ser reutilizado ao longo do evento e devolvido ao final do show.

A instalação usada para o palco refletia mais uma vez a intimidade da banda com a tecnologia. Um sistema super elaborado composto por 12 telões se movia nos intervalos das músicas e trazia a cada instante um novo olhar sobre os agentes do palco. 








Assim como na turnê do In Rainbows, em 2009, o sistema foi desenvolvido exclusivamente para a banda, mas dessa vez a inovação teve custos mais altos: durante a montagem do show em Toronto, em julho, um dos técnicos de palco foi atingido e morto quando parte do cenário despencou. O sistema teve que ser revisto e reconstruído num prazo apertado de 30 dias!

Tragédias à parte, devo dizer que, se é que isso é possível, o show excedeu qualquer expectativa. Não só pela qualidade visual mas pela precisão com que cada acorde era tocado ou cada nota da voz do Thom era pronunciada. No final, após quase duas horas e meia de show e 2 biz, a banda fechou sua apresentação com um mashup de “Untravel”, da Bjork, “Everything in its right place” e “Idioteque”. Thom, Colin Greenwood, Ed O’brien e Phil Selway deixaram o palco, menos Jonny Greenwood, que ficou sentado no chão, curvado sobre sua guitarra enquanto, para minha tristeza, soavam os seus últimos acordes. 

Aproveitando o momento “tiete” (Ok, Ju e Caio, vocês venceram), aqui vai a set list e vídeos (tirados do youtube) do show:

1. Lotus Flower 2. Bloom 3. 15 Step 4. Kid A 5. Staircase 6. I Might Be Wrong 7.The Gloaming 8.Separator 9.Videotape 10.Nude 11.Ful Stop 12.Reckoner 13.Planet Telex 14.There There 15.Feral 16.Bodysnatchers

Biz Número 1:
17.Give Up the Ghost 18.Exit Music (for a Film) 19.Weird Fishes/Arpeggi 20.Morning Mr. Magpie, 21.Street Spirit (Fade Out)

Biz número 2:
23.The National Anthem, 24. Untravel (Bjork) ->Everything in Its Right Place -> Idioteque

                                                                           




 ... e a melhor parte do show, na minha opinião: