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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Radiohead em Strasbourg


Faz dois dias que assisti ao show do Radiohead e acabo de voltar a Londres, onde comecei recentemente meu mestrado. Aproveitei a passagem pela França para jantar com dois companheiros do Aventura de Ler, Juliana Giglio e Caio Santiago, que após lerem minha saga, me acusaram de “fanática” e “tiete”.  Como comecei o post anterior afirmando nunca ter sido “tiete de banda”, aqui vai a minha justificativa (depois, claro,eu conto do show!):

Escolhi o Thom Yorke como objeto de estudo para o meu projeto de graduação de faculdade, em 2011. Não só por causa da música, que na época eu mal conhecia, mas como pesquisava artistas que dialogassem com a causa ambiental, fiquei interessada ao saber que ele era vegetariano e que a banda tinha lançado o In Rainbows, em 2008, na internet, disponibilizando o CD para download. Mas foi após assistir ao documentário Meeting People is Easy, filmado durante a turnê de OK Computer, em 1998, que eu realmente me interessei pela banda.


O documentário começa com a música Fitter Happier (“Melhor Encaixado E Mais Feliz”) ao fundo, enquanto uma câmera se move mostrando os trilhos do trem, em preto e branco, lembrando as primeiras cenas de Zentropa, de Lars Von Trier. A relação entre Thom Yorke e Lars me deu arrepios. A letra de Fitter Happier descreve a rotina de uma pessoa convencional, e poderia ser uma letra convencional se não fosse o piano dramático ao fundo e o próprio fato de estar sendo cantada pelo Thom - pessoa nada convencional. 

Ao contrário do que o título da música poderia sugerir, grande parte das letras da banda abordam temas como existencialismo e alienação. Muitas questionam o relacionamento das pessoas com a tecnologia, especialmente em OK Computer, o que só fez aumentar o meu interesse pela banda. Mas como o autor de Radiohead and Philosophy coloca, “mesmo com essa visão suspeita da tecnologia, Radiohead mantém credibilidade especial nessa área pela forma como incorporam ferramentas tecnológicas de maneira criativa”. Apesar do sentido “introspectivo”, “depressivo” e por vezes “alienado” atribuídos às letras da banda, Radiohead é uma banda atual.

A mistura da banda com a modernidade fica ainda mais evidente ao vê-los tocar. A turnê de 2009, que os levou ao Brasil, foi surpreendente pelos efeitos de iluminação no palco, que misturava elementos cenográficos à LEDs coloridos, desenvolvidos especialmente para os shows. Segundo o gerente de produção da turnê, Richard Young, o sistema foi pensado para economizar o máximo de energia possível, dando às apresentações uma pegada mais “ambiental”. 

A turnê de divulgação do King of Limbs, essa de 2012, não usou o mesmo sistema de iluminação, mas também não deixou de contribuir com algumas iniciativas ecologicamente responsáveis. Ao entrar na cúpula alaranjada que é o Zénith, a casa de shows em Strasbourg, a primeira imagem que vi foi um urso polar de pelúcia em tamanho real, em um stand montado pelo Greenpeace que recolhia assinaturas para a campanha Save the Artic. Um vídeo colaborativo entre Yorke e o Greenpeace, com narrativa de Jude Law, lançado em julho, mostra um urso procurando comida nas ruas de Londres e chama a atenção para o derretimento das calotas polares:



(se alguém quiser assinar a petição, eis o site: http://www.savethearctic.org/
não custa nada, vai. Os ursos são fofos e merecem a nossa atenção.)

Tanto as camisetas oficiais da banda, que também estão disponíveis no site, quanto a cerveja que é vendida no bar refletem os princípios da banda. Todas as peças são feitas com algodão orgânico e poliéster reciclado, e para cada bebida servida, o espectador deixava um euro pelo copo, que podia ser reutilizado ao longo do evento e devolvido ao final do show.

A instalação usada para o palco refletia mais uma vez a intimidade da banda com a tecnologia. Um sistema super elaborado composto por 12 telões se movia nos intervalos das músicas e trazia a cada instante um novo olhar sobre os agentes do palco. 








Assim como na turnê do In Rainbows, em 2009, o sistema foi desenvolvido exclusivamente para a banda, mas dessa vez a inovação teve custos mais altos: durante a montagem do show em Toronto, em julho, um dos técnicos de palco foi atingido e morto quando parte do cenário despencou. O sistema teve que ser revisto e reconstruído num prazo apertado de 30 dias!

Tragédias à parte, devo dizer que, se é que isso é possível, o show excedeu qualquer expectativa. Não só pela qualidade visual mas pela precisão com que cada acorde era tocado ou cada nota da voz do Thom era pronunciada. No final, após quase duas horas e meia de show e 2 biz, a banda fechou sua apresentação com um mashup de “Untravel”, da Bjork, “Everything in its right place” e “Idioteque”. Thom, Colin Greenwood, Ed O’brien e Phil Selway deixaram o palco, menos Jonny Greenwood, que ficou sentado no chão, curvado sobre sua guitarra enquanto, para minha tristeza, soavam os seus últimos acordes. 

Aproveitando o momento “tiete” (Ok, Ju e Caio, vocês venceram), aqui vai a set list e vídeos (tirados do youtube) do show:

1. Lotus Flower 2. Bloom 3. 15 Step 4. Kid A 5. Staircase 6. I Might Be Wrong 7.The Gloaming 8.Separator 9.Videotape 10.Nude 11.Ful Stop 12.Reckoner 13.Planet Telex 14.There There 15.Feral 16.Bodysnatchers

Biz Número 1:
17.Give Up the Ghost 18.Exit Music (for a Film) 19.Weird Fishes/Arpeggi 20.Morning Mr. Magpie, 21.Street Spirit (Fade Out)

Biz número 2:
23.The National Anthem, 24. Untravel (Bjork) ->Everything in Its Right Place -> Idioteque

                                                                           




 ... e a melhor parte do show, na minha opinião:






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