Menu

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Puro divertimento sem mea culpa


Quando saiu a notícia de que Tintin viraria um filme em motion capture, admito que fui uma das primeiras a ficar com os dois pés atrás. A série animada das aventuras de Tintin, exibida pela TVE, fez parte da minha infância e eu achava os traços simples incrivelmente expressivos. Então, falar de Tintin adaptado para uma tecnologia tão nova me deixou com receio do resultado. Era praticamente como se falassem que fariam uma versão live action da Turma da Mônica.

Porém, depois de ver o filme, me juntei aos críticos que viram na versão Jackson/Spielberg uma adaptação fiel ao material original, sem perder em originalidade nem modernidade. Mas saí do cinema pensando em um detalhe do filme que me chamou atenção.

Acho que ninguém vai negar que estamos praticamente sob a ditadura do politicamente correto. “Comam seus vegetais”, “façam seu dever de casa” e “não assistam a desenhos violentos” (como, por exemplo, Tom & Jerry, que envolve inúmeras situações de violência contra os animais).

Então, quando Tintin saca um revólver e não tem problema em usá-lo, confesso que me surpreendi. Esperei pacientemente que isso se tornasse um dilema moral para o herói, um perigo para seus companheiros ou que ele logo exprimisse como “detestava recorrer a armas”. Afinal, estamos falando de um filme infantil, certo? Mas a tal lição não veio e o Tintin em 3D, exatamente como o Tintin em 2D, pôde seguir seu caminho, depois de alguns tiros, sem dor na consciência.

Isso pode ser simples respeito pelo material original: na década de 30, quando as revistas foram inicialmente publicadas, o uso de armas de fogo não chegava sequer a ser um tema polêmico (aliás, elas eram parte importante da imagem do homem viril, extremamente popular desde o século XIX). É importante lembrar que, em “Tintin no Congo”, Hergé fala sem pudores sobre a “inferioridade da raça negra” (até o cachorro Milu é mais inteligente do que os nativos). Anos depois, quando a Europa saía do neocolonialismo e precisava lidar com seus próprios fantasmas, Hergé reviu seus conceitos e acrescentou um prefácio ao álbum, explicando a seus novos leitores o contexto de produção daquela história em particular.

Por outro lado, os tiros de Tintin se parecem muito com os de outro herói de Spielberg: Indiana Jones. Não só isso, o filme inteiro exala aquela aura dos filmes de aventura da década de 80: um certo desapego das preocupações quotidianas e de “questões políticas”, um exclusivo compromisso com o divertimento do público.

Qualquer que seja o motivo, estou aliviada: em uma época onde quase todo filme de ação parece vir com um tratado de mea culpa (sim, Avatar, estou olhando para você), é um refresco ir ao cinema e simplesmente me divertir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Estamos aqui para ouvir tudo que você tiver para falar sobre a nossa Aventura!
O resto, você já sabe: nada de expressões agressivas e preconceituosas.