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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Último show

Este blog estava preste a receber um texto sobre os artistas sulamericanos que tenho escutado nos últimos tempos. Mas a última terça-feira (dia 08) causou uma mudança. Acho que não só para mim, como para muitos que estiveram presentes no Circo Voador para assistir a segunda noite do “Eu Quero Festival”, realizado pelo grupo Queremos, com a apresentação de quatro grupos: Banda Baleia; Toro y Moi, Bombay Bicycle Club e Broken Social Scene.

Eu poderia falar sobre o show de cada um deles, mas não cheguei a tempo para assistir a Banda Baleia - grupo de um amigo que faz versões bacanas numa pegada jazz-pop. E pouco conhecia os dois grupos a seguir, embora Toro y Moi tenha me chamado atenção em alguns momentos. Não vou falar do festival em si, nem fazer uma avaliação crítica dos shows... então o que eu quero afinal? Quero revelar como foi a sensação de presenciar o fim de um projeto artístico: o último show do Broken Social Scene.





Antes de chegar ao mérito da questão, vale explicar o que é o Broken Social Scene, afinal, apesar de contar com fãs do Circo, o grupo não tem tanto renome por aqui. No início do século, houve um boom de grupos de indie rock e pós-rock no Canadá. Entre eles surgiu o BSS, um dos mais interessantes, tanto musical como conceitualmente. O coletivo é composto por uma reunião de músicos procedentes de diversas outras bandas canadenses – então, podemos entendê-lo como uma síntese do movimento musical do Canadá nos últimos anos. Também é importante comentar que foi o grupo que revelou a Feist, uma das cantoras mais bem sucedidas do país.





Agora, podemos voltar ao assunto que justifica o texto: apesar de já ter meu ingresso garantido com antecedência, só fiquei sabendo do “hiato por tempo indeterminado”, quando li “os motivos” para assistir o show no e-mail do Queremos. Mesmo com essa noção, nenhuma expectativa daria conta do que eu assisti: desde o primeiro momento, ouvia-se Kevin Drew, o fundador do grupo (junto com o baixista Brandon Canning), bradando que era “the last show”. E com o passar do espetáculo a informação ia dando lugar a um sentimento de melancolia. O grupo parecia criar mais e mais energia, não se sabe de onde. No meio do show, Brandon Canning comentou, em tom bem humorado, que eles tocariam por mais 1 hora e meia. A piada era pura verdade: foram 2 horas e meia de som.

No retorno para o primeiro bis da noite, Kevin Drew avisou que cantaria tal música por nós: assim começam os primeiros riffs de “Almost Crime”, uma das melhores canções da banda, pouco executada na turnê desse ano. Mas é o último show, vale tudo, e eles retornaram para mais dois bis. Antes do último, todos eles se agruparam na entrada do backstage, pareciam decidir sobre o ato de “voltar”. Nenhum componente parecia ter vontade de ver o show acabar.

O relógio se aproximava das 2 da madrugada de quarta-feira. Aos poucos o Circo foi esvaziando: os trabalhadores precisavam ir pra cama. Eu fiquei, subi para a arquibancada do segundo andar. Pela primeira vez, presenciei uma banda “vencendo” o público, e de modo algum aquilo foi ruim. Em meio a covers de Modest Mouse, Beastie Boys, uma versão a cappela de Kevin Drew da canção “I Still Haven't Found What I'm Looking For” do U2, o BSS parecia bem a vontade fazendo a vontade dos fãs, e a sua própria. Fechando o show com a agradável faixa instrumental “Pacific Theme”, os oito sairam apressadamente do palco. O ato me pareceu a maneira mais saudável para uma despedida...





No retorno para casa foi inevitável ficar refletindo a cerca daquele fim. Mesmo que seja um intervalo longo, e os membros do Broken Social Scene tenham outros grupos, fico pensando que encerrar a carreira artística, qualquer que seja ela deve ser um fardo. Como músicos solo, eles podem voltar quando quiser... Para cineastas, pintores, escritores: idem. Para uma banda, certamente não é igual, mesmo que ela retorne desfalcada... nunca mais soará igual - seja para os fãs, ou para o próprio conjunto. A saída súbita do palco, após um dos shows mais longos que assisti, tinha de ser consentida.



P.S. 1: Como carioca, considero obrigatório agradecer aos esforços do Queremos e a todos os nomes impressos no posters comemorativo do “Eu Quero Festival”, por trazer o grupo para o Rio. Afinal, se não fosse por eles, o Broken Social Scene finalizaria sua vida útil em uma rápida apresentação de 11 músicas no Festival Planeta Terra, em São Paulo.

P.S. 2: Caso meu texto não tenha atendido as expectativas de saber como realmente foi o show, segue uma nota do pitchfork com alguns vídeos e um artigo do Virgula contando a segunda noite do festival detalhadamente:

Nota da Pitchfork + vídeos

Broken Social Scene se despede dos palcos com show catártico no Rio de Janeiro

P.S. 3: Para você que ficou curioso com o texto sobre os “hermanos”, peço que aguarde até a minha próxima postagem. Fica aqui a promessa.

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