Quando Príncipe Adam, do Reino de Etérnia, recebe a “Espada do Poder” da Feiticeira Teelana, ele ativa os poderes mágicos da arma com a frase: “Pelos poderes de Grayskull, eu tenho a força!”. O castelo, então, o transforma em He-Man - o homem mais poderoso do universo - como ele mesmo diz. Seu companheiro, um tigre medroso chamado Pacato, se assusta com a transformação de “príncipe bobo alegre” em “Conan misturado com o Príncipe Valente loiro” e, a princípio acidentalmente, é transformado em Gato Guerreiro.
Lembro-me bem de ver esse desenho nas manhãs antes de ir para o colégio e pensar a respeito da mudança brusca pela qual Adam passava. Voz, aparência e atitude se modificavam de tal forma que, frequentemente, eu esquecia que os dois eram a mesma pessoa. Adam é fraco e meio infantil, enquanto He-Man destrói um diamante com as mãos, se liberta de um sarcófago feito do metal mais resistente do Universo e sai na mão com ninguém menos que Kal-El, que teme pela própria vida, como mostra a capa de “Superman and the Masters of the Universe”.
“Dois alienígenas brigando!”, pensava.
Uma vez, quando precisei ficar quieto na cama, febril e com a garganta inflamada, fraco e rouco, temi por Adam. No dia em que perdesse a voz por conta de uma gripe ou coisa parecida, ele não proferiria suas palavras mágicas e ficaria rendido, se recuperando à base de líquidos e repouso, no corpo frágil de um príncipe. Aí, vinha o segundo medo – que Esqueleto ou Hordak descobrissem essa falha da qual eu havia me dado conta, e passassem a atacar o herói com baldes d’água gelada em dias de friagem ou roubassem todos os agasalhos de seu armário. Como isso nunca aconteceu, concluí que Duncan, o Mentor, devia ser uma excelente babá.
Pensava também a respeito de sua identidade mágica ser um segredo, somente revelado à Mentor, Feiticeira e Gorpo. Será que ninguém ouvia aquele moço de colete vinho e calça de lycra roxa gritando todos os dias a plenos pulmões que tinha a força? Certamente a vizinhança sabia, mas não comentava, já que ele ensinava ética e moral para as crianças de Etérnia.
Justamente por agir como um xerife de sua terra, que se contenta em frustrar os repetidos planos de seus algozes, mas é incapaz de encarcerá-los, que He-Man é peculiar. Ele sabe que está no topo da pirâmide por ser o homem mais poderoso do universo, possuir conhecimentos secretos e não precisar tirar uma única gota de sangue de alguém para se fazer entender. Mesmo em situações de extremo perigo, seus amigos aparecem para salvar o dia. Não dá para competir com um sujeito assim, já que Esqueleto e Hordak não têm ninguém, só capangas que obedecem por medo e respeito. Além disso, Adam sabe perdoar os malfeitores, ainda que estes nunca mudem suas maneiras.
Já outro desenho dos anos oitenta coloca uma equipe de fugitivos numa posição muito mais vulnerável. A bordo da nave-mãe, os sobreviventes dos ataques à Thundera pelos mutantes Plun-Darr, fogem para o Terceiro Mundo e vêem seu planeta ser completamente destruído. Eles escapam com a Espada Justiceira, uma arma mágica detentora do Olho de Thundera, artefato encrustado no cabo da lâmina capaz de fazer de Lion-O um guerreiro de verdade. Semelhante à Espada do Poder, a Espada Justiceira também precisa de um acompanhamento vocálico para atingir seu potencial máximo:
“Espada Justiceira, dê-me a visão além do alcance! Thunder. Thunder. ThunderCats. Rôôôu!!!”, meu irmão e eu gritavámos.
Mas por que só repetíamos as palavras de Lion-O e não as do Príncipe Adam, visto que gostávamos dos dois desenhos na mesma medida? Revendo os episódios há pouco tempo, lembrei de um fato importantíssimo. Lion-O foge da destruição de Thundera com seus amigos ainda criança, e a viagem para o Terceiro Mundo leva décadas. O herói adormece dentro de uma câmara criogênica, que falha em parar seu envelhecimento, ou seja, ao chegar ao destino final, Lion-O continua tendo a mente jovem, mas no corpo de um adulto.
Obviamente que as lições de moral de Adam também nos davam a impressão de se tratar de uma figura mais velha, sábia e provavelmente mais experiente, enquanto o herói dos ThunderCats “quebrava a cara” até sacar a Espada Justiceira, responsável por protegê-lo como uma fiel guardiã.
A figura de Mumm-Ra, o vilão de voz cavernosa e amedrontadora também sofria uma mutação a partir de uma longa invocação que o fazia ganhar corpo musculoso e um poder descomunal:
“Antigos espíritos do mal, transformem esta forma decadente em Mumm-Rá, o de vida eterna!” também repetíamos o que Mumm-Rá dizia, mas por nos vangloriarmos em termos decorado cada palavra dita, dia após dia.
Agora, paremos e pensemos – Esqueleto ameaça He-Man com trapassas pequenas e truques amadores. Até o Líder da Horda do Mal, Hordak, foi traído e preso numa outra dimensão, enquanto Mumm-Rá pede ajuda aos “antigos espíritos do mal”. Que tipo de vilão invoca fantasmas responsáveis por tudo aquilo o que é ruim? O esforço que Lion-O tem de fazer, sendo uma criança responsável em suplantar as ameaças constantes de um vilão ajudado por espíritos, é imensamente maior. Lembrando que Mumm-Rá é "o de vida eterna".
Quando meu irmão, eu e muitas outras crianças repetíamos as palavras de Lion-O, estávamos, de certo modo, ajundado-o. Não como um grito de guerra, mas como uma invocação capaz de alcançar a força de Mumm-Rá. Portanto, assistir aos episódios era a única forma de garantir que poderíamos ajudar Lion-O, Cheetara, Panthro, Tygra, WilyKit, WilyKat e Snarf a sobreviverem. Dramático? Talvez, mas nada nos deixava mais animados do que começar o dia sabendo que as forças do mal perderíam mais uma vez, com nossa ajuda.
Victor, todos os heróis acabam tendo frases, palavras ou bordões que os caracterizam, mas nem sempre lembramos de como era emocionante repetí-las. Fazer essa viagem de volta às nossas mentes infantis é um barato! Abs, Jorge.
ResponderExcluirNão sei vcs, mas eu fico tentando adivinhar qual deus egípcio cada um dos espiritos do mal representa, pq se vc olhar bem e claro, se vc tem interesse em mitologia egipcia, vai notar q tem uns q se familiarizam bastante com alguns... :)
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