Logo que as
bonecas de Monster High, franquia da Mattel criada em 2010, chegaram ao Brasil,
minhas sobrinhas começaram a pedir para ganhar de presente. Na ocasião, achei
curioso aquelas bonecas que pareciam um cruzamento da Família Addams com Barbie,
também da Mattel, mas não dei grande importância. Só achei interessante a sacada da empresa, grande
fabricante de brinquedos, perceber o interesse que personagens de terror
despertavam em garotas pré-adolescentes.
Até então, só havia percebido brinquedos com esta temática para meninos.
Cruzamento de Barbie com Família Addams... |
Percebi
também que o sucesso das bonecas foi bem maior do que eu esperava – para mim,
era uma moda passageira que só iria durar um verão. Mas, minhas sobrinhas começaram a pedir de presente
não apenas as bonecas, mas roupas, revistas, posters, bolsas e os mais variados
apetrechos estampados pelas bonecas em um estilo gótico de boutique. Nem as revistas em quadrinhos chamaram minha
atenção, pois suas capas pareciam emular as capas de revistas típicas de
adolescentes, com manchetes sobre moda, namoro ou comportamento. Foi só quando uma delas ganhou um livro, um romance
baseado nas bonecas, que o fenômeno foi captado pelo meu radar.
O 1º livro da série |
Escrito por
Lisi Harrison, que desenvolveu projetos para a MTV americana e criou “Alfas”,
uma série literária para adolescentes bem sucedida já lançada no Brasil, o
livro tinha quase 400 páginas. Eu achava que, hoje em dia, essa quantidade de
páginas deveria ser um obstáculo intransponível para garotas entre 11 e 15
anos, acostumadas com o imediatismo das redes sociais e a comodidade de filmes
e seriados de TV baixados em seus computadores. O fato da ID Editora já ter
lançado por aqui quatro livros da série felizmente prova que eu estava errado.
Confesso que não li o livro de minha sobrinha – minha pilha acumulada de
material para leitura está grande o suficiente – mas dei uma folheada em alguns
capítulos e gostei da qualidade do texto. Uma nova geração de leitoras deve
estar sendo formada com a série.
Mas a proposta
por trás de Monster High me conquistou depois que vi os seriados de animação
baseado nas bonecas – veiculados na internet e na TV – e entendi o contexto em
que suas aventuras acontecem. Monster High é uma escola de Ensino Médio onde
estudam os filhos de monstros clássicos de Terror: Drácula, Lobisomem, Múmia,
Frankenstein, Zumbi, Fantasma da Ópera, Abominável Homem das Neves, entre
outros. A série aborda todos os clichês de aventuras desenvolvidas num ambiente
como este: os namoros, as típicas dificuldades que os jovens têm em interações
sociais, os conflitos entre os mais populares e os que não têm prestígio, o
interesse pela moda etc. A série, porém, tem dois grandes diferenciais.
O primeiro
deles é seu foco em como os estranhos, os freaks,
precisam lutar para serem aceitos pelo que são, sem que precisem mudar para
poder integrar a sociedade ou ser parecidos com os normais – chamados pelos
alunos da Monster High de “normies”. Eles estabelecem sua própria noção de
estética, a partir de suas características e da criação de cada um e não
procuram se adequar ao que é dito pela moda. Como diz um dos slogans do
produto, “o legal é ser diferente”. Neste ponto, as bonecas de Monster High
transitam no extremo oposto do padrão estabelecido há mais de 50 anos pela
mesma Mattel com a Barbie: uma boneca que sempre acompanhou a moda e foi modelo
da garota perfeita, seja pelo seu físico, pelas suas atitudes ou por tudo que
ela possui – casas, carros e objetos que despertam o desejo de suas donas. Barbie é um único exemplo a ser seguido, um
personagem que não possui um contexto claro por trás de si – tanto que os longametragens
de animação que estrelou são em geral independentes entre si, sem uma narrativa
que os une. Enquanto isso, cada boneca de Monster High possui sua própria história,
personalidade e gostos e seu universo de aventuras é coeso, estabelecendo maior
identidade com seu público. Não é a toa que, depois que entrou na onda das
garotas da Monster High, minhas sobrinhas não querem mais saber das princesas
da Disney, sempre perfeitas em seu mundo cor de rosa.
O segundo diferencial são as referências apresentadas na série que
remetem a uma grande gama de elementos da cultura pop. A cidade onde Monster
High se localiza é Salem, no Alabama, que nos remete a outra Salem, localizada
em Massachusetts, conhecida pelos seus polêmicos julgamentos de casos de
bruxaria no século XVII. Um vilão na série que está querendo atrair freaks para
seu circo de horrores chama-se Barnum , numa referência ao controverso empresário
do mundo do circo Phyneas Taylor Barnum, citado em nosso site no texto “Mundo
Bizarro”, de Tatiana Lai. Os nomes das alunas do colégio é outro achado: Cleo
de Nile, Ghoulia Yelps, Abbey Bominable, Deuce Gorgon...
Todos lembram a origem monstruosa de cada um. Só a curiosidade de procurar
entender a origem destas referências ampliará bastante os horizontes das fãs.
O sucesso alcançado por Monster High mostra que o
contexto dos freaks, a identificação
do público com os excluídos, com os que são diferentes da maioria por suas
caraterísticas físicas ou sua identidade cultural, ainda vai ter seu espaço
garantido na cultura pop, sendo mais uma vez reinventado para a nova geração.
Barbie e as Princesas da Disney, estas “normies”, podem não estar com seus dias
contados, mas certamente deixaram de ser hegemônicas. Ainda bem!
É pra você ver... Como nos admiramos, às vezes, com os mais novos! :D Abraço Amigo!
ResponderExcluirO outro comentário... Também é meu! Vamos ver se já fica aí o meu nome. :) Antonio Taveira de Oliveira.
ResponderExcluirConcordo, Antonio. São sempre os mais jovens que procuram quebrar com a mesmice. Eles são a renovação.
ResponderExcluirisadora 25 maio de 2014
ResponderExcluir22:34
quero muito ganhar essas coisas das monster high
isadora 25 maio de 2014
ResponderExcluir22:36
quero muito ganhar essas coisa