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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Obcecados, mas não vilões


Tenho uma coleção de quadrinhos há 15 anos compartilhada com dois de meus maiores amigos. Coleção compartilhada, caso raro mas real.

Manter uma coleção com outras pessoas tem muitas vantagens. A primeira é a possibilidade de ampliar a quantidade de itens colecionáveis. No caso das histórias em quadrinhos, por exemplo: mesmo que haja interesse por apenas um gênero (super-heróis americanos ou faroeste...), pode ser um tremendo rombo no orçamento de qualquer um arcar com tudo sozinho. Com um sócio na coleção, você pode torná-la mais diversificada e farta, cada um cuidando de um subgênero.

Outra grande vantagem é dispor de mais espaço para guardar a coleção. Ela não precisa estar toda em um mesmo lugar, pode ser dividida entre as casas dos sócios- colecionadores. Imagine isso: os donos da coleção teriam acesso mais ou menos livre à casa do outro sempre que quisesse pegar algumas das edições que lá estão. Para estabelecer uma parceria destas é preciso investir na amizade de quem tem afinidade com você. Essa relação é coisa séria, nada a ver com bate-papos entre colecionadores que só comparam suas coleções. Se você optar por colecionar em grupo, deve começar por escolher bem com quem você vai partilhar seu hobby, pois se espera que essa relação seja para a vida toda.

Esta relação deve se estender aos familiares de seus sócios, ou pode ocorrer o que disse Geraldo Cachola, dono de 250 mil gibis e especializado em revender revistas usadas. Ele afirmou no nº24 da revista “Mundo dos Super-Heróis” que adquire a maioria de suas revistas de viúvas de colecionadores, que se desfazem delas a preço de banana, sem ter noção real de seu valor.

A relação entre revendedores e familiares de colecionadores mortos foi retratada com muita propriedade no filme Vilões por acaso (Comic book vilains, 2002), escrito e dirigido por James Robinson – ele mesmo um colecionador inveterado de gibis, e conhecido roteirista de quadrinhos americanos consagrados (Superman, Starman e Era de Ouro, já publicados no Brasil). No filme, os donos de duas comic shops querem comprar a coleção de um colecionador morto, cuja mãe se recusa a vender porque não vai com a cara deles. Obcecados, eles passam a agir como os supervilões dos quadrinhos que fazem de tudo para conseguir.

Se meus amigos e eu não tivéssemos feito nosso acordo certamente eu teria deixado de ler muitas obras que hoje estão entre as minhas preferidas. E o fato de termos esta coleção em comum, que hoje tem cerca de 15 mil gibis de todos os gêneros, virou um fator primordial para que continuássemos sempre a nos ver. Nossos encontros não são apenas para falar de quadrinhos e apresentar o material recém-comprado. Falamos de gostos que temos em comum – cinema, literatura, séries de TV... – e falamos sobre nós mesmos. Enquanto outras amizades da adolescência foram ficando para trás, os gibis acabaram por reforçar nosso elo.

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