por Thiago Ortman
Antes de começar qualquer história: não, eu não estou louco, fui parar no hospício e por isso vi o, já falecido, Sérgio Sampaio por lá. Mas a minha história realmente começa no hospício de Engenho de Dentro. Estive lá na semana passada para acompanhar a atividade cultural dos amigos do Norte Comum, que agora tem uma ala disponível no Hotel da Loucura, espaço dentro do próprio hospício (Nise da Silveira).
Bem vindos ao hotel da loucura.
O evento foi belíssimo, com uma série
de apresentações, shows (entre eles da banda de rock instrumental
recifense Joseph Tourton), declamações de poesias, e tudo mais, com
a presença dos artistas do hospício (poetas, atores...) tendo
oportunidade de apresentar seus trabalhos para uma galera que nunca
tinha pisado lá – não era o meu caso, mas ainda não conhecia bem
o trabalho deles, além das belas poesias, frases e pinturas no Hotel
da Loucura.
Já estava escuro nos jardins do Nise
quando um rapaz chamado Arthus surgiu com seu violão, disse que
havia treinado o repertório de (um tal de) Sérgio Sampaio, mas nada
estava muito ensaiado e muita “coisa” iria surgir na hora.
Começou seu show de quase uma hora, só com versões do músico até então desconhecido para mim. Então, ali mesmo, descobri que era o compositor de “Eu quero botar meu bloco na rua” - essa eu conheço! - que toca em todas as festas de música brasileira da Lapa. As canções falavam de amor, loucura, poesia, e que lugar de samba enredo é no asfalto. E todos ao meu redor cantavam, eu nada.
Começou seu show de quase uma hora, só com versões do músico até então desconhecido para mim. Então, ali mesmo, descobri que era o compositor de “Eu quero botar meu bloco na rua” - essa eu conheço! - que toca em todas as festas de música brasileira da Lapa. As canções falavam de amor, loucura, poesia, e que lugar de samba enredo é no asfalto. E todos ao meu redor cantavam, eu nada.
A ignorância era realmente minha. Na
mesma noite cheguei em casa e comecei a pesquisa... o mais maldito
dos artistas da MPB (como logo descobri) merecia mais do que uma mera
pesquisa de google/wikipedia.
Baixei o álbum “Tem que acontecer”, um dos seus dois discos produzidos nos anos 70. De cara, um sambinha, “Até outro dia”... Em pleno 76, um samba como aquele: com aspirações em Nelson Cavaquinho. Sua singela beleza já me conquistou, e olha que é complicado alguém me conquistar na primeira faixa. Em seguida, a música que deu sentido a tudo, “Que loucura”, a cantiga falava que as loucuras de amor levaram o cantor ao hospício em Engenho de Dentro, uma pérola! O álbum ainda tinha blues acústico (“Cabras Pastando”); a brasilidade de Os Novos Baianos (“O que pintá, pintou”) ou o sambinha a lá Tom Zé (“Velho Bandido”) presentes... mas ao mesmo tempo não soando menos caricatural que os próprios. Ainda vale citar a dobradinha “O teto da minha casa” e “Ninguém vive por mim”, e suas assimilações com a viola caipira e a vibração de Marcos Valle naqueles mesmos tempos, respectivamente. É uma obra-prima de um dos anos mais ricos da música brasileira*.
Baixei o álbum “Tem que acontecer”, um dos seus dois discos produzidos nos anos 70. De cara, um sambinha, “Até outro dia”... Em pleno 76, um samba como aquele: com aspirações em Nelson Cavaquinho. Sua singela beleza já me conquistou, e olha que é complicado alguém me conquistar na primeira faixa. Em seguida, a música que deu sentido a tudo, “Que loucura”, a cantiga falava que as loucuras de amor levaram o cantor ao hospício em Engenho de Dentro, uma pérola! O álbum ainda tinha blues acústico (“Cabras Pastando”); a brasilidade de Os Novos Baianos (“O que pintá, pintou”) ou o sambinha a lá Tom Zé (“Velho Bandido”) presentes... mas ao mesmo tempo não soando menos caricatural que os próprios. Ainda vale citar a dobradinha “O teto da minha casa” e “Ninguém vive por mim”, e suas assimilações com a viola caipira e a vibração de Marcos Valle naqueles mesmos tempos, respectivamente. É uma obra-prima de um dos anos mais ricos da música brasileira*.
Fui para o próximo álbum: “Eu quero
é botar meu bloco na rua” (1973). A inspiração não era a mesma,
com um teor de pretensão setentista em sua produção, indo por um
caminho semelhante a uma série de outros álbuns da época. Ainda
sim, tinha músicas que em pouco tempo de Sergio Sampaio já
considero entre suas melhores: “Filme de Terror”, “Não tenha
medo, não!”, “Dona Maria de Lourdes”, e a já conhecida
faixa-título.
Eu posso ser o último. Mas conhecer
Sergio Sampaio no hospício que o “acolheu após enlouquecer de
amor” gerou em mim uma crônica gratificante. E se eu não sou o
último, corram atrás! Se nada disso serve de consolo, o cara da direita era amigo, ídolo e ainda formou uma banda-de-um-LP com ele (o qual ainda não ouvi)...
...Enquanto isso, “os automóveis estão invadindo a simples cidade”.
...Enquanto isso, “os automóveis estão invadindo a simples cidade”.
*76 foi ano de Chico Buarque e seu “Meus Caros Amigos”, enquanto Tom Zé estava “Estudando o Samba”; as “Maravilhas Contemporâneas” de Luiz Melodia nasciam; “Imyra, Tayra; Ipy”, Taiguara; Cartola e seu homônimo; “Domingo Menino Dominguinhos” do próprio; As “Brigas de Galos” de João Bosco; os “Geraes” de Bituca; e a “Alucinação” de Belchior... ufa. Tudo foi em 76.
itapeba
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