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sábado, 17 de novembro de 2012

Meu Lanterna Verde de mentira

Ontem, na hora do almoço, resolvi me distrair um pouco - nada como a internet no celular para esses momentos de solidão no meio do café da biblioteca - quando dei de cara com esse post no 9gag. A tirinha, da cartunista sailorswayze, coloca em cena a realidade de "um peso, duas medidas" quando o negócio é quadrinhos:
A mesma camiseta, dois gêneros
Mas, calma! Esse post não é sobre meninos e meninas, eu prometo. Talvez seja melhor eu recomeçar, então, com a seguinte frase: Adoro O Senhor dos Anéis, mas não tenho paciência para os livros.

No final das contas, é disso que quero falar: dá para ser fã sem conhecer o material original? Olha ali na tirinha, ele fala "read the comics" - então não dá para conhecer o Lanterna Verde através de algum outro meio? (Não, não estou defendendo o filme com o Ryan Reynolds, não feche a janela!)

Até bem pouco tempo atrás, o número de heróis DC que eu poderia citar de cabeça mal dava para encher uma mão. Sim, eu vi Super Amigos quando era criança, mas, tirando os Super Gêmeos, as minhas lembranças da série são muito, muito vagas. Hoje, Justice League Animated faz parte da minha lista de séries animadas favoritas, Hawkgirl está entre as minhas personagens femininas favoritas e...nunca li um mísero volume de quadrinho da DC na vida.
Justice League que eu conheço e Justice League que o Vinícius deve conhecer
Aí que entram os puristas e dizem que não posso ser fã assim. Eu até bradaria alto contra isso se nunca estivesse estado do outro lado da cerca: eu também - confesso - já duvidei do carinho alheio porque, afinal, não dá para apreciar Harry Potter através das simples adaptações!

Mas ninguém pode negar que o cinema e a televisão tenham um poder atrativo enorme e a Marvel, que não é boba, já entendeu bem o que isso significa em termos de $$. A sequência Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América mostrou que não só o público dos quadrinhos está aberto para adaptações que fujam do cânone clássico construído pelas histórias impressas, como há todo um novo público a ser conquistado, que se interessa pela mitologia e pelos personagens, mas que não quer ter que se dedicar a centenas de números de revistas para poder descobrir como, afinal, um deus nórdico e um playboy trilhardário juntam forças com outros para defender a Terra. Eu, certamente, prefiro ver Os Vingadores do Whedon uma centena de vezes.
E isso sem contar que o filme ainda tem Hawkeye e Blackwidow!
Então, se fãs novos e fãs antigos nem sempre conseguem se entender muito bem (e nem preciso dizer qual lado tende a implicar mais com qual, certo?), a verdade é que certas adaptações são simplesmente tão boas que fazem mais do que jus ao material original - às vezes elas são até mesmo melhores. O Drácula do Coppola me levou para o Drácula de Bram Stoker - e foi uma decepção. Outros exemplos de versões cinematográficas mais bem-sucedidas ou simplesmente melhores do que o material original não faltam: Dorothy e James Bond, por exemplo. Tubarão, aposto que tem gente que nem sabia que tinha sido um livro (escrito por Peter Benchley), e a mesma coisa com o (infelizmente) pouco conhecido A Princesa Prometida. E para não ficar só nos livros, Constantine pode ser bem diferente de sua fonte, mas é tão bom quanto.

Até o último filme de Crepúsculo, dizem, é melhor do que o original - o que prova que, às vezes, essa tarefa não é exatamente hercúlea.

Ah! E antes que me esqueça: como em tudo que tem a ver com ser fã envolve afetividade, o meu Lanterna Verde é John Stewart. O da animação, é claro.

6 comentários:

  1. Adorei o texto, Juliana! E a implicância entre fãs da obra original e fãs das adaptações vão sempre existir. O desenho animado da Liga da Justiça é mesmo uma ótima adaptação, sou fã de carteirinha. Acho que todo fã dos quadrinhos deve concordar com isso. Na realidade as animações da equipe do Bruce Timm com os heróis da DC são todas muito boas - as séries do Batman, do Superman, os longas para DVD...

    Eu gostei bastante do Drácula de Stoker, que não tem o romantismo que tanto caracterizou o personagem no cinema. Só impliquei mesmo com a sequência final que pedia a ação que vimos no filme. Isso foi frustante.

    Agora, a implicância com garotas que usam camisas com personagens dos quadrinhos, como se elas necessariamente não conhecessem o personagem, é mesmo uma idiotice.

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  2. É curioso que o John Stewart, seu Lanterna Verde preferido, entrou na animação por uma questão de cotas. Sempre achei o personagem muito bom, mas há muito tempo ele estava relegado a lista de personagens esquecidos nas HQs, até o surgimento da série animada da Liga. É ainda mais curioso o fato da versão da animação e das HQs serem diametralmente opostas: na TV John serviu ao exército, é um cara disciplinado e todo certinho. Nas HQs ele era revolucionário, agitador e questionador do status quo, sendo ativista do movimento negro. Mas gosto das duas versões.

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    1. Pois é, Vinicius... Uma das coisas que deixei de mencionar foi justamente o quanto a influência das adaptações nos materiais originais - a vantagem da internet é que, mesmo sendo expert, dá pra encontrar informações, então li, por exemplo, que o John dos quadrinhos mudou bastante por causa do sucesso da Liga animada.

      Aliás, essa coisa de cotas não foi só com o John não - a Hawkgirl entrou na série em vez do Hawkman para evitar que a Mulher Maravilha sofresse da síndrome de Smurfette (quando o grupo é composto por X membros masculinos e só uma garota/mulher). Claro que, em Unlimited, com a expansão do grupo, isso fica totalmente apagado, mas mesmo assim, fez diferença no início da série.

      E quão mais curioso não fica o destino desses dois personagens "cotistas" dentro do universo animado da DC?

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    2. É verdade, Juliana. Mas a escolha da Hawkgirl para integrar a versão animada da Liga da Justiça não ocorreu apenas por uma questão de cotas. Se fosse assim haveria outras personagens femininas que tiveram mais destaque nas HQs e que poderiam integrar o grupo sem grandes problemas, como a feiticeira Zatanna, por exemplo.

      Hawkgirl foi escolhida por outra razão: a saga que conclui a primeira temporada da série - "Escrito nas Estrelas" -, onde a verdade sobre suas intenções na Terra vem a tona. Tenho certeza que os produtores da série já tinham ideia deste caminho que iriam trilhar desde que a série foi concebida.

      Para quem não viu, a saga mostra que a Hawkgirl era uma espiã de Thanagar enviada a Terra para saber de nossos costumes, conhecer nossa capacidade defensiva e preparar o caminho para uma invasão de nosso planeta.

      Com isso Hawkgirl acabou sem a personagem do desenho animado mais diferente da versão dos quadrinhos. Tanto que, apesar do sucesso, ela praticamente não afetou sua versão nas HQs. E, mesmo assim, fãs dos quadrinhos em geral adoraram o caminho que o desenho animado seguiu e entenderam porque escolheram a Hawkgirl para integrar a equipe e não o Hawkman, uma escolha mais óbvia. Elese se surpreenderam positivamente com o que viram. Sinal que, mesmo seguindo caminhos bem distintos das versões originais, é possível agrar aos fãs mais radicais.

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  3. Hm, Ju, adorei o texto, me deu o que pensar, mas devo admitir que sou um pouco "purista", para não dizer preconceituosa, em relação ao assunto. Acho bastante curiosa essa facilidade com que nós, jovens exemplares da geração "Y" , nos apropriamos de algumas referências sem pesquisar um pouco mais sobre o assunto. Eu acho que sou do time que, pra você ter carteirinha de fã do Harry Potter, sim, tem que ler os livros! Todos, e ver os filmes tambem! Do contrario, o que você esta adquirindo e uma versão parcial do todo... Hm, vou dormir pensando nisso.

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  4. Adorei a discussão, Julie! Sou bem da teoria do filme Copie Conforme que originalidade não traz necessariamente valor em si e uma 'cópia' (nesse caso versões bem autorais) pode ter tanto ou mais valor.

    Amo quadrinhos, mas não entendo nada desses mencionados acima... Mas acho que se pegarmos Schtroumpfs, Popeye, Tintin e Peanuts, cujas versões em animação tem qualidade extremamente distintas, para mim fica nítido o quanto eu não me apego a esse conceito. É uma pena pensar que um monte de gente nem imagina a genialidade do Popeye do Segar ou do Sagendorf nos quadrinhos, mas não acho nenhum absurdo alguém amar Tintin sem nunca ter tocado em nenhum quadrinho do Hergé - mesmo eu não achando o desenho melhor que a BD.

    Acho que vale muito pensar em interpretações musicais também! Aproveito para citar Ira Gershwin - "I never knew how good our songs were until I heard Ella Fitzgerald sing them."

    Beijos!

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