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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A Gata e o Rato

Por Tatiana Laai

Televina! Era assim que minha mãe me chamava, como a personagem da novela A Gata Comeu, a empregada engraçada que sabia tudo sobre o universo televisivo e vivia citando novelas. Foi meu lado Televina que me fez relembrar o seriado A Gata e o Rato, uma das minhas primeiras paixões televisivas, e elas são muitas!!

A Gata e o Rato (Moonlighting) estreou em 1985 e foi um marco na TV americana. Ouso dizer que se hoje parte da diversão dos fandoms de séries e animes é torcer por casais fictícios, A Gata e o Rato tem muito a ver com isso. Muito antes dos “shippers” de plantão enlouquecerem por Mulder e Scully, no Arquivo X, ou por Sasuke e Naruto, em Naruto, a coisa fervia por Maddie e Addison.   
    
Maddie Hayes (Cybill Shepherd) é uma ex-modelo, bem-sucedida, linda, glamurosa, independente, trabalhadora e sexy, até o dia em que seu empresário desaparece com todo o seu dinheiro, deixando para trás somente uma das propriedades de sua cliente: a Agência de Detetives "City Angels".  Não foi por bondade do empresário: a agência havia sido criada apenas para dar prejuízo e gerar reduções nos impostos. Na falência e cheia de dívidas, Maddie é convencida pelo funcionário bom de lábia David Addison (Bruce Willis), um cara esperto, sedutor e boa pinta, de que a agência poderia dar lucro. Eles rebatizam a empresa de “Blue Moon" e Maddie se descobre uma boa detetive particular.

Logo, A Gata e o Rato deveria ser um seriado de detetives, certo? Mais ou menos, mais pra menos. David Addison é charmoso, desencanado, divertido, folgado e cínico. Maddie é séria, mega responsável, refinada, um tanto controladora e fria. Juntos eles são nitroglicerina pura: muita atração e antipatia, muita briga e tensão sexual, muitos diálogos rápidos e espertos e uma pergunta intrigante: eles vão ficar juntos, ou não vão? Pegue dois personagens carismáticos e charmosos, junte os dois com muita química, e está pronta a receita de uma boa comédia romântica, bem temperada com ação, suspense e até um dramazinho.

Esta é a “guerra dos sexos” que mais fez sucesso na TV dos anos 80. A série foi inspirada no clássico cinematográfico Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940), estrelado por Cary Grant e Rosalind Russell, confirmando sua origem romântica no melhor da comédia do gênero da era de ouro do cinema, e virou inspiração para tantas outras. A mais recente e óbvia é a série Castle, também com um casal de detetives. Agora, chegando ao final da quarta temporada, a pergunta que não quer calar é: quando é que o escritor Richard Castle e a detetive Kate Beckett (vividos por Nathan Fillion e Stana Katic, respectivamente) vão ficar juntos e  acabar logo com esse suspense?


Quem também se divertia com as brigas de Maddie e Addison e não perdia a chance de fofocar sobre eles era a atrapalhada secretária  Srta  DiPesto  (Allyce Beasley) que não cansava de ver os dois saírem discutindo do escritório e, como uma representante do público, vivia especulando sobre a paixão entre os briguentos. Com uma voz muito esganiçada e um ar de louquinha, ela vivia fazendo rimas ou ficava plantada falando sozinha, depois de uma discussão entre David e Maddie. Mais tarde Curtis Armstrong (de A Vingança dos Nerds), se uniu ao elenco interpretando um empregado temporário chamado Herbert Viola, que passou a ser também investigador da agência. Viola e Dipesto acabaram tendo um relacionamento, que por sinal era muito parecido com o dos patrões. O casal também era responsável por grande parte das cenas cômicas da série.

O jogo de gata e rato (trocadilho adotado como título no Brasil é bastante adequado) entre  Maddie e Addison durou 2 temporadas. Todo mundo ficava em frente à TV roendo as unhas para saber quando é que o casal barraqueiro ia, enfim, partir para os finalmentes. E o dia D veio em 31 de março de 1987. Numa cena polêmica, com uma violenta briga e muitos tapas! David e Maddie finalmente vão para a cama, encerrando a expectativa de milhões de expectadores americanos. No Brasil, a série foi apresentada  pela Rede Globo em meados da década de 1980. Depois foi comprada pelo SBT, nos finais dos anos 90. Também foi exibida pelo canal a cabo Sony (2003) e Multishow (2005).

A tal cena foi assunto de alguns dos maiores jornais dos Estados Unidos, como o Chicago Tribune e o Los Angeles Times, e deu manchete no New York Times: “Maddie Hayes e David Addison se tornarão amantes hoje às nove da noite, e a ABC quer ter certeza de que todos saibam disso”. Graças à estratégia do canal, à propaganda nos guias de TV e à ansiedade dos fãs, todo mundo ficou sabendo mesmo: o episódio teve 44% de audiência nos Estados Unidos em pleno horário nobre. Mais de 60 milhões de pessoas assistiram ao tão esperado momento entre tapas e beijos e o seriado entrou oficialmente para a  história da TV.

Mas não só por isso. Sempre dosando, a cada episódio, humor súbito, humor escrachado e drama, a série la se tornou uma das primeiras de um gênero que viria a ser conhecido como "dramédia" e tornou-se conhecida por constantemente "derrubar a quarta parede" - termo emprestado do teatro, que explica o seguinte: como os espectadores precisam assistir ao que acontece, o palco só tem três paredes, a do fundo e as dos lados; a parede da frente é "invisível", e é através dela que enxergamos a ação; ao derrubar a quarta parede, os personagens falam ou fazem coisas que nos mostram que eles têm consciência de que aquilo não é real, fato que nem sempre combina com o que estamos assistindo.  Addison, por exemplo, frequentemente dizia coisas como "o canal jamais nos deixará fazer isso", ou "a culpa não é minha, é dos roteiristas", enquanto os demais personagens olhavam atônitos, como se não compreendessem o que ele queria dizer. Essas falas não eram improviso, mas constavam do próprio roteiro, fazia parte do humor do seriado.  A Gata e o Rato não foi a primeira a fazer uso desse recurso, mas foi a primeira a fazê-lo com sucesso. A série mereceu uma menção dos diretores da "Guild of America", como uma das melhores séries de dramédia dos últimos 50 anos da televisão.

Depois que o casal briguento levou suas desavenças para baixo dos lençóis, o seriado começou a perder audiência e a ter problemas de produção, com muitos atrasos e brigas entre a equipe. Os atores-protagonistas ficavam cada vez menos disponíveis para a série: Cybill estava grávida e Bruce Willis, até então um desconhecido, após ganhar um Globo de Ouro de melhor ator pela atuação no seriado, começou sua bem sucedida carreira cinematográfica (o primeiro filme da série "Duro de Matar" seria lançado em 1988). A série foi cancelada em 1989, mas não sabemos exatamente o que causou o fim.  Uns dizem que foi o desencontro entre os dois atores principais, disponíveis somente parte do tempo e em épocas diferentes (além de inúmeros choques nos bastidores), outros acham que depois que o casal se entendeu a série perdeu o charme. Teria sido a consumação da expectativa dos telespectadores que minou o interesse pela história? Será que o povo gosta mesmo é de romance em suspense, cheio de tapas e beijos?!

Em seu auge, A Gata e o Rato conquistou picos de audiência e a simpatia da crítica. Ao todo, foram 39 indicações ao Emmy e 7 prêmios. Bruce Willis levou um Emmy e um Globo de Ouro de melhor ator. Cybill Shepherd, 2 Globos de Ouro.  A música-tema da abertura “Moonlighting Theme”, de Al Jareau, foi indicada ao Grammy de 1988. Maddie e David foram escalados várias vezes entre os “melhores casais da TV”.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, gostei muito e deu para matar a saudade desta grande serie da minha infância!

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  2. adorava essa serie! muito bem lembrado como um classico da sessao da tarde. tem muita serie e filme q tenta imitar o tom ate hoje.

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