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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Super-heróis de capa e espada

Venho pesquisando há algum tempo os antecedentes do super-herói – que teve sua gênese nas histórias em quadrinhos – é parte inquestionável da cultura pop e está presente em todas as mídias e gêneros de entretenimento. Parte de sua indumentária e de seu mise em scène vem de personagens do circo dos anos 30, particularmente dos homens fortes, que se exibiam levantando pesos imensos, e dos trapezistas e malabaristas, que demonstravam grande agilidade e perícia de movimentos e equilíbrio. Isso explica, por exemplo, as típicas cuecas por fora da calça e as cores berrantes dos seus uniformes.

Outras de suas características – a máscara, a identidade secreta e a defesa dos fracos e oprimidos – vêm de personagens da literatura popular do início do século 20. Eles pertencem a uma subdivisão de um tipo de personagem de ficção: o swashbuckler, exímio espadachim conhecido pela perícia no manejo de sua arma. Em seu aspecto solar ele é marcado por seu convencimento, sua simpatia contagiante, sua camaradagem com seus parceiros e seu gosto pela aventura e pela busca de encrencas. Em sua face sombria, o swashbuckler em geral é alguém movido pelo ódio e pelo rancor, que elabora planos mirabolantes para se vingar de traidores e falsos amigos, que normalmente o apunhalaram pelas costas, jogaram seu nome na sarjeta e forjaram provas que o acusam de crimes que não cometeu. É um personagem romântico típico de folhetins do século XIX que possui forte apelo até hoje, vide a fama alcançada por um certo pirata chamado Jack Sparrow, que brinca com essas características.

Entre os swashbucklers, existem porém aqueles que não são movidos por sede pela aventura, mas pelo desejo de ajudar os mais necessitados, e que se utilizam de uma identidade secreta com um nome marcante para alcançar esse objetivo. Os mais marcantes destes personagens foram o Zorro e o Pimpinela Escarlate.


O Zorro é um dos personagens fictícios mais conhecidos do século XX. Ele apareceu pela primeira vez em uma novela escrita pelo americano Johnston McCulley, “A Maldição de Capistrano”, publicada em 1919. Devido ao seu sucesso – principalmente por causa da sua versão para o cinema mudo, intitulada “A Marca do Zorro”, lançada no ano seguinte –, McCulley escreveu mais de 60 aventuras estreladas pelo espadachim mascarado que defendia os fracos e oprimidos na Califórnia do século XIX, época em que a região ainda pertencia à Espanha. “Zorro” significa “raposa” em espanhol. Ele é chamado assim devido a sua agilidade e esperteza, mas em sua identidade secreta era Don Diego de La Vega, um jovem aristocrata que finge ser covarde e bon vivant.

Elementos modificados ou acrescentados ao personagem em sua primeira versão cinematográfica, estrelada por Douglas Fairbanks, marcaram para sempre as características do personagem no imaginário do público – a cor preta de seu uniforme e sua longa capa – e foram assumidas por MCCulley em suas histórias posteriores. A imagem mais marcante do personagem para o público em geral, porém, é a do ator Guy Willians encarnando-o na série de TV da Disney, produzida entre 1957 e 1961.


A história original do personagem só foi lançada no Brasil no ano 2000, pela Panda Books, com o nome de “A Marca do Zorro” – a mesma alteração do título foi realizada nos EUA a partir da sua 2ª edição devido ao sucesso do filme de Fairbanks. Por ter caído em domínio público, o personagem passou a ser utilizado por vários autores e possui diversas versões: de musicais para teatro, seriado japonês de animação, até telenovela mexicana. A mais recente versão literária foi “Zorro: o Começo da Lenda”, da consagrada autora chilena Isabel Allende. O livro foi lançado aqui, em 2006, pela Bertrand Brasil (leia mais em “na pilha - livros”, no site).

Zorro, com Douglas Fairbanks (1920)

Apesar de ser menos lembrado, o romance “O Pimpenela Escarlate” inaugurou este tipo de personagem e é inspiração direta para o Zorro, de McCulley. Escrito pela húngara Baronesa de Orczy, ele foi lançado em 1902 e alcançou um grande sucesso em todo o mundo. Assim como ocorreu com McCuley e seu personagem, a baronesa se aproveitou do sucesso do Pimpinela e continuou escrevendo histórias com ele e seus coadjuvantes durante toda a sua carreira literária.


O herói era um inglês dos tempos da primeira fase da Revolução Francesa, cuja identidade e verdadeiro rosto eram um mistério. Mestre da estratégia e do disfarce, ele se dedicava a salvar e levar para a Inglaterra membros da aristocracia da França, perseguidos pelos revolucionários e invariavelmente condenados a morte pela guilhotina. O Pimpinela possuía uma liga de colaboradores e tinha como símbolo um desenho da flor da qual tirou seu nome e que usava como assinatura de seus feitos ou nas mensagens que escrevia para seus colaboradores ou inimigos. Sua identidade secreta é a do insuspeito Sir Percy Blakeney, um nobre inglês conhecido por sua futilidade, falta de preocupação e trejeitos de dandi. As mesmas características das identidades secretas do Zorro e do Batman, por exemplo.

O Pimpinela Escarlate também caiu em domínio público. Teve versão para teatro, quadrinhos, cinema e série de TV, mas não tem destaque na cultura pop há um bom tempo. Vários livros da baronesa com o personagem foram lançados na coleção Paratodos, da Companhia Editora Nacional. As últimas edições, porém, são de 1985. A mais recente grande produção com ele foi um filme para a TV de 1982, onde Ian McKellen interpreta o antagonista do herói – Cidadão Chauvelin – antes de alcançar a fama como Magneto, na franquia cinematográfica dos X-Men, e o Mago Gandalf de “O Senhor dos Anéis”. O filme foi lançado em DVD aqui no Brasil, sem muita repercussão, no ano de 1999. Mas um novo longa metragem para o cinema está em produção na Inglaterra. Torcemos para que ele possa resgatá-lo do limbo para as novas gerações.

Pimpinela Escarlate, com Ian McKellen (1982)

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