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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Só vou parar na quarta-feira

Para mim, qualquer interesse para o carnaval 2013 começou ontem à noite. Numa conversa de bar com amigos, rememorei cada verso de “Caciqueando” do Cacique de Ramos. Imediatamente me lembrei da av. Rio Branco tomada pelo vermelho e branco do Cacique em fevereiro de 2012.

Talvez você tenha imaginado que eu fosse iniciar um texto saudando “aqueles tempos”, mas na era do iPhone 5 – que já-já dá lugar a um Samsung Galaxy (concorrência) de uma geração mais recente. 2012 foi o ano em que descobri o Cacique de Ramos, quando provavelmente muitos leigos em carnaval de rua (como eu, que só conhece os blocos famosinhos, que todo mundo vai) também descobriram: o bloco foi tema da Mangueira, que fez o desfile mais animado da Sapucaí, repetiu a façanha da paradona da bateria, desta vez com inacreditáveis minutos cantados por toda a avenida, “sem atravessar”. Mas como não sou nem freqüentador nem entendido em escola de samba, minha descoberta aconteceu diretamente no “trabalho de campo”.


O bloco existe há 52 anos em Ramos, zona da Leopoldina ( bairro de Olaria), e contribuiu diretamente para o surgimento de grandes grupos de samba como Fundo de Quintal, e tem Beth Carvalho como madrinha. Seus desfiles acontecem na av. Rio Branco nas madrugadas de domingo, segunda e terça-feira. Além da natureza singela e da sinceridade, o Cacique me marcou por motivos maiores e mais pessoais - que seguem na história.

Ano passado, na manhã de sábado de Carnaval, minha vó, que já estava velhinha e doente, faleceu. Isso acarretou em um distanciamento da folia. Num primeiro momento pelo luto (ou tristeza), depois pelo respeito. Porém, meu pai (filho dela), falou que ela certamente ficaria feliz se eu não deixasse o meu carnaval passar e indicou que eu voltasse à festa.

Na noite de domingo eu voltei ao centro fora do compasso dos amigos. Apesar da compreensão deles diante da minha situação, era inevitavelmente querer algum apoio real, mas já suspeitava que o apoio viria da própria essência do carnaval.

Victor, Laís e Pedro, grandes entendidos da rodas de samba do Rio, avisaram: “Hoje tem Cacique de Ramos, vamos? Você vai ver o carnaval acontecer...”, e fui. Na imensa avenida Rio Branco, encontrei alguns foliões que não haviam sido vencidos pelo cansaço do dia e uma imensidão de índios com penas vermelhas e brancas... Passados os minutos da concentração, começou:

“Olha meu amor/ Esquece a dor da vida

 Deixe o desamor/ Caciqueando na avenida

Nesse ano eu não vou marcar bobeira

Vou caciquear só vou parar na quarta-feira

Na onda do cacique eu vou/ Pois caciqueano eu sou

Na onda do cacique eu vou/ Porque caciqueano eu sou!”


A coisa tem a força de um hino, mas nunca tinha ouvido aquela música, e naquele instante, nada conseguia conversar melhor comigo do que aqueles versos... Fui me afastando dos amigos pra contemplar o povo pulando a música, e as lágrimas foram inevitáveis. Realmente, não havia nada melhor para me consolar do que aquele bloco. Um ano inteiro de preparação (com um carro alegórico e fantasias) para desfilar três dias ali, assim como as grandes escolas de samba, mas, ao contrário do que se exibe no Sambódromo, bem longe de câmeras e camarotes, aonde as arquibancadas tornam-se o próprio bloco.


E assim, o Cacique surgiu para mim... Dois dias depois (na terça), lá estava eu – dessa vez mais tranquilo e levando mais amigos – pulando em meio aos “caciqueanos”. Este ano tem mais!

Após anos de carnaval, descobri um bloco que me fez imaginar a folia nos tempos que falavam de uma alegria que hoje em dia parece perdida, mas que ainda tenta vagar por aí – Cacique que o diga!



Nota: Fotografias do artista plástico Carlos Vergara, mais fotos aqui.

Um comentário:

  1. Cresci pra virar uma avessa ao carnaval, de forma geral, mas todo ano meus pais me levavam primeiro para a Central, para ver os carros alegóricos sendo preparados antes de entrar na Avenida, e depois para a Rio Branco - e eu não voltava para casa até ver o Cacique de Ramos!

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