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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Bill Cunningham


Por Raphaela Leite

Se alguém ama roupas, esse alguém é Bill Cunningham. Mas não a roupa de boutique, das vitrines e das páginas da Vogue. Bill ama as roupas que andam pelas ruas e que têm gente dentro. Bem antes da internet e dos chamados fashion bloggers, Cunningham vem registrando a moda da rua, com um olhar bastante autoral.

Bill largou a faculdade de Harvard nos fim dos anos 40 e se mudou para Nova York, onde se dedicou à publicidade. Pouco tempo depois, largou a carreira e montou seu atelier de chapéus e os assinava como William J. Antes de descobrir sua verdadeira vocação, Bill foi para guerra. Na volta, trabalhou como jornalista de moda e graças a um amigo, que o presenteou com uma câmera e o aconselhou que ele a usasse como um sketchbook - que é um livro de esboço, uma ferramenta de trabalho onde os artistas registram ideias, reflexões e inspiração -, Bill descobriria a sua paixão: a fotografia.

Há pelo menos 40 anos, Cunningham acorda, pega sua bicicleta e sai por Nova York, esperando o exato momento para o primeiro click do dia. Diz que nunca tem nada em mente e sai de casa sem expectativas: ele observa e espera a rua falar com ele.

Bill tem duas colunas no jornal NY Times, uma chamada On the Street, onde vemos o olhar do artista, como ele percebe uma tendência e passa a registrar tudo que esteja relacionado ao tema em destaque. Pode ser acessório, peça de roupa ou cor, desde que venha carregado de informação nova: uma tonalidade incomum, um formato diferente, um novo uso para uma peça resgatada de outros tempos ou uma estampa que remeta a outros universos gráficos.


Em sua outra coluna, Evening Hours, Bill registra eventos e festas filantrópicas da alta sociedade novaiorquina, mas que fique bem claro: ele não fotografa nada nem ninguém que não queira. Como fotógrafo, sempre deixa claro que não se importa com quem está por baixo das roupas, nem modelos, nem famosos o interessam, mas a roupa em si, e como ela se comporta nos diversos corpos que por aí circulam. Bill participa do processo todo de construção da coluna e faz questão de que tudo saia de seu jeito. Dizem que seu perfeccionismo enlouquece muita gente, mas faz parte de sua identidade como artista.



Para alguns, é difícil entender a visão e postura de Bill - mesmo quando está presente nos mais importantes desfiles e semanas de moda, ele nunca fica no meio dos fotógrafos, mas sim sentado com a audiência, esperando algum detalhe, que tanto pode ser um drapeado como um ângulo diferente.



Com um jeito doce e peculiar de enxergar a vida, Bill vive de maneira simples em um estúdio cercado de arquivos lotados de fotografias, provavelmente o maior arquivo fotográfico de comportamento e moda de rua do mundo. Ele próprio admite que a maioria dessas fotos nunca foram publicadas. Imagine só, durante os últimos 50 anos, ele vêm fotografando a mudança comportamental de uma das cidades mais influentes do mundo da moda em milhares de cliques diários.

Em 2010, Cunningham foi premiado pelo Ministro da Cultura francês como “Officier del'ordre des Arts et des Lettres” e, em 2011, o cineasta Richard Press produziu e dirigiu um documentário chamado “Bill Cunningham, New York”.


Hoje, aos 83 anos, Bill mantém sua rotina de acordar cedo, andar de bicicleta por Manhattan e fotografar o que mais lhe intreressa: roupas. Parece um trabalho cansativo para alguém com uma idade tão avançada, mas quando você encontra sua paixão, nem tempo nem idade importam.


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