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sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ray Bradbury, o pai da Ficção de Idéias

por Vinicius Marins

Em um episódio dos Simpsons, está acontecendo uma eleição para monitor na sala de aula do Bart. O nerd da turma, Martin, se apresenta como candidato à vaga e promete exigir uma biblioteca para os alunos com as obras da “trindade ABC”: Isaac Asimov, Alfred Bester e Arthur C. Clarke, os grandes autores da ficção científica. Um estudante então pergunta: “E o Ray Bradbury?” Martin não dá importância para a questão e fala com desdém: “Estamos estudando o caso desse aí.”


Assim é visto Ray Bradbury por parte de aficionados ultra radicais da ficção científica: sua prosa seria excessivamente poética e boa parte de suas premissas não tinha fundamento científico. Além do mais, ele sequer fez curso universitário. Mas seus milhões de fãs pensam diferente:  ele está entre os mais queridos, os que mais produziram e que mais  foram traduzidos (36 línguas) e adaptados para outras mídias – principalmente para os  quadrinhos, gênero responsável pelo seu interesse pela fantasia e pela produção literária.

Bradbury publicava contos desde 1941, mas começou a se destacar com o lançamento do livro Crônicas Marcianas, em 1950, onde ele acrescenta histórias inéditas a vários contos já publicados, formando uma longa saga que narra os contatos da humanidade com Marte em várias ondas colonizadoras, por um período de pouco mais de 20 anos. O livro foi adaptado para rádio, TV e quadrinhos – esta versão, com arte de Dennis Calero, foi lançada no país este ano pela editora Globo. A edição mais recente do livro original é de 2007, pela mesma editora. 

Mesmo os fãs mais radicais não podem deixar de considerar sua obra mais conhecida, Fahrenheit 451, como uma das maiores do gênero FC  e das mais proféticas de todos os tempos. Lançada em 1953, fala sobre a mudança de paradigma causada pela popularização da TV - vídeos que podem ser assistidos em aparelhos de bolso, programas transmitidos em tempo real que filmam perseguições policiais, a vida íntima de uma família dentro de sua casa – e sobre a destruição de livros, para que nenhuma minoria se sinta ofendida.

O livro, também lançado pela Globo, cuja edição mais recente é de 2009, ganhou versão para o cinema pelas mãos do cineasta François Truffaut e possui uma adaptação em quadrinhos aprovada pelo autor, lançada no Brasil ano passado*. Outro livro seu adaptado para o cinema, que também virou cult, foi Uma Sobra Passou por Aqui *. Um de seus contos, Ícaro Montgolfier Wright (publicado no Brasil na coletânea E de Espaço, da editora Hemus), virou desenho animado e concorreu ao Oscar em 1962.


Bradbury fez vários roteiros de cinema e tem uma estrela na Calçada da Fama. É dele a consagrada versão de Moby Dick de 1956, dirigida por John Huston e estrelada por Gregory Peck. Ele nomeou revista em quadrinhos (Ray Bradbury Chronicles) e seriado de TV (Ray Bradbury Theatre), nos quais seus contos ganharam versões, e é influência assumida de grandes autores contemporâneos, como o inglês Neil Gaiman.

Ray Bradbury nasceu em 1920 e morreu no dia 6 de junho deste ano, aos 91 anos de idade. Sua obra vai permanecer enquanto a ficção científica for vista da forma como ele a definia: uma ficção de idéias.  Em um texto de apresentação, que figurou em várias de suas coletâneas, é ele próprio que melhor se define:

“Júlio Verne foi meu pai. H. G. Wells foi meu sábio tio.  Edgar Allan Poe foi o primo com asas de morcego que guardávamos lá em cima, na sala do sótão.  Flash Gordon e Buck Rogers foram meus irmãos e amigos. Aí está minha ascendência. Acrescentando, claro, o fato de que muito provavelmente Mary Wollstonecraft Shelley, autora de Frankenstein, foi minha mãe. Com uma família dessas, eu não poderia deixar de ser outra coisa: um escritor de fantasia e de curiosíssimas histórias de ficção científica”.

Um comentário:

  1. Excelente texto, Vinícius. Extendi o meu luto ao Sr. Bradbury depois do seu texto. Parabéns.

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