por Vinicius Marins
Em um episódio dos Simpsons, está acontecendo uma eleição para monitor na sala de aula do Bart. O nerd da turma, Martin, se apresenta como candidato à vaga e promete exigir uma biblioteca para os alunos com as obras da “trindade ABC”: Isaac Asimov, Alfred Bester e Arthur C. Clarke, os grandes autores da ficção científica. Um estudante então pergunta: “E o Ray Bradbury?” Martin não dá importância para a questão e fala com desdém: “Estamos estudando o caso desse aí.”
Em um episódio dos Simpsons, está acontecendo uma eleição para monitor na sala de aula do Bart. O nerd da turma, Martin, se apresenta como candidato à vaga e promete exigir uma biblioteca para os alunos com as obras da “trindade ABC”: Isaac Asimov, Alfred Bester e Arthur C. Clarke, os grandes autores da ficção científica. Um estudante então pergunta: “E o Ray Bradbury?” Martin não dá importância para a questão e fala com desdém: “Estamos estudando o caso desse aí.”
Assim é visto Ray Bradbury por parte de
aficionados ultra radicais da ficção científica: sua prosa seria excessivamente
poética e boa parte de suas premissas não tinha fundamento científico. Além do
mais, ele sequer fez curso universitário. Mas seus milhões de fãs pensam diferente:
ele está entre os mais queridos, os que mais
produziram e que mais foram traduzidos (36
línguas) e adaptados para outras mídias – principalmente para os quadrinhos, gênero responsável pelo seu interesse
pela fantasia e pela produção literária.
Bradbury publicava contos desde 1941,
mas começou a se destacar com o lançamento do livro Crônicas Marcianas, em 1950, onde ele acrescenta histórias inéditas
a vários contos já publicados, formando uma longa saga que narra os contatos da
humanidade com Marte em várias ondas colonizadoras, por um período de pouco
mais de 20 anos. O livro foi adaptado para rádio, TV e quadrinhos – esta
versão, com arte de Dennis Calero, foi lançada no país este ano pela editora
Globo. A edição mais recente do livro original é de 2007, pela mesma editora.
Mesmo os fãs mais radicais não podem
deixar de considerar sua obra mais conhecida, Fahrenheit 451, como uma das maiores do gênero FC e das mais proféticas de todos os tempos.
Lançada em 1953, fala sobre a mudança de paradigma causada pela popularização
da TV - vídeos que podem ser assistidos em aparelhos de bolso, programas
transmitidos em tempo real que filmam perseguições policiais, a vida íntima de
uma família dentro de sua casa – e sobre a destruição de livros, para que
nenhuma minoria se sinta ofendida.
O livro, também lançado pela Globo,
cuja edição mais recente é de 2009, ganhou versão para o cinema pelas mãos do
cineasta François Truffaut e possui uma adaptação em quadrinhos aprovada pelo
autor, lançada no Brasil ano passado*. Outro livro seu adaptado para o cinema,
que também virou cult, foi Uma Sobra Passou por Aqui *. Um de seus
contos, Ícaro Montgolfier Wright
(publicado no Brasil na coletânea E de
Espaço, da editora Hemus), virou
desenho animado e concorreu ao Oscar em 1962.
Bradbury fez vários roteiros de cinema e
tem uma estrela na Calçada da Fama. É dele a consagrada versão de Moby Dick de
1956, dirigida por John Huston e estrelada por Gregory Peck. Ele nomeou revista
em quadrinhos (Ray Bradbury Chronicles)
e seriado de TV (Ray Bradbury Theatre),
nos quais seus contos ganharam versões, e é influência assumida de grandes
autores contemporâneos, como o inglês Neil Gaiman.
Ray Bradbury nasceu em 1920 e morreu no
dia 6 de junho deste ano, aos 91 anos de idade. Sua obra vai permanecer
enquanto a ficção científica for vista da forma como ele a definia: uma ficção
de idéias. Em um texto de apresentação,
que figurou em várias de suas coletâneas, é ele próprio que melhor se define:
“Júlio Verne foi meu pai. H. G.
Wells foi meu sábio tio. Edgar Allan Poe foi o primo com asas de morcego
que guardávamos lá em cima, na sala do sótão. Flash Gordon e Buck Rogers
foram meus irmãos e amigos. Aí está minha ascendência. Acrescentando,
claro, o fato de que muito provavelmente Mary Wollstonecraft Shelley, autora de
Frankenstein, foi minha mãe. Com uma família dessas, eu não poderia deixar
de ser outra coisa: um escritor de fantasia e de curiosíssimas histórias de
ficção científica”.
(*) Leia no site: sobre Fahrenheit 451 ,
em http://www.aventuradeler.com.br/81/6/0883d/Versao-em-quadrinhos-de-Farenheit-451-e-lancada-no-Brasil
e sobre Uma
Sombra Passou Por Aqui em http://www.aventuradeler.com.br/535/9/47105/Uma-Sombra-Passou-por-Aqui-
Excelente texto, Vinícius. Extendi o meu luto ao Sr. Bradbury depois do seu texto. Parabéns.
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