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quinta-feira, 22 de março de 2012

A alma de um personagem e o seu figurino


Ao observar o figurino de algumas séries de televisão, não consigo deixar de imaginar como deve ser divertido elaborar aquele universo. Afinal, não é fácil captar a “alma” de cada personagem e traduzi-la em peças de roupa. Para entender a responsabilidade que a tarefa pode trazer, basta perceber a influência da TV nas roupas e trejeitos das pessoas nas ruas: inúmeros estilistas já foram consagradaos a partir de seriados de TV (como Manolo Blahnik, em Sex and the City) e, todos os anos, mais e mais modismos são lançados por conta desses programas. Aliás, acho que o faturamento do Saara, zona central de compras no Rio, não seria o mesmo sem novelas como “O Clone” ou “Caminho das Índias”.

Em algumas produções, no entanto, o figurino pode alcançar um outro patamar: mais do que suporte para reforçar a personalidade, ele pode ser tão importante como o personagem principal em si. Foi o que aconteceu no seriado “Sex and The City”, onde os figurinos criados por Patricia Field se tornaram tão conhecidos como as quatro meninas da série. O fenômeno pode ser explicado pela dedicação da figurinista em transformar o seriado em uma referência do que havia de mais atual na moda nova iorquina. Suas produções misturavam o que havia de mais chique com peças de brechó ou lojas de departamento, consolidando o estilo Hi-Low . Outro ponto importante deste trabalho foi a minuciosa preocupação com tudo que fosse ao ar: consta que, para cada cena, dez opções de figurino eram selecionadas para se chegar ao resultado final.

Se a moda revelava toda a sua força nos figurinos do seriado moderninho, o mesmo pode ser visto na produção kitsch A Grande Família. O remake da Globo, que atualmente está em seu décimo-primeiro ano de vida, tem suas origens na série homônima, que foi ao ar na década de 70. Se em Sex And The City o glamour e a preocupação com a atualidade eram determinantes, aqui, na casinha suburbana de Seu Lineu e Dona Nenê, a cafonice e as referências retrô imperam. Mas para quem pensa que a ausência de refinamento é puro desleixo, está muito enganado. Cada detalhe visual é meticulosamente estudado para a caracterização dos personagens que, além de lançar modinha, tem na identificação com o público o seu foco. Nas palavras de Marieta Severo, "o brasileiro gosta de se ver refletido nessa família que supera os problemas do cotidiano com bom humor, afeto, solidariedade e compreensão". Para isso, o figurinista Cao Albuquerque abusa dos estereótipos das ruas e mistura referências de diferentes décadas na composição de seus personagens: as extravagantes camisas do Agostinho, por exemplo, são inspiradas nos anos 70 e os decotes comportadinhos de Dona Nenê, na inocência dos anos 50.

Mas e aqueles programas que, aparentemente, possuem personagens pouco interessados no vestir? O seriado nerd The Big Bang Theory traz montes desses indivíduos que, ao contrário das meninas populares de Nova York, não recebem tantos convites para eventos sociais. Mas quem acha que o trabalho do figurinista aqui é menos importante, se engana novamente. Por trás das inocentes camisetas de Sheldon Cooper ou as insossas pregas das saias de sua namorada Amy Fowler, encontra-se uma figurinista preocupada em aparentar, cena a cena, o caráter alienado ou, como seria o caso do judeu Howard Wolowitz , a total falta de senso estético em suas combinações. Howard, ao contrário dos outros, tem motivo para se preocupar com sua aparência. Em sua caracterização, a figurinista Mary T. Quigley abusa das calças justas e dos mais variados modelos de cinto para atrair a atenção para a região pélvica. “Para alguém que é tão sexual, ele precisa realçar as partes importantes. Os cintos estão sempre atraindo a atenção para a virilha, o lugar onde realmente está o coração dele”, diz o ator Simon Helberg, o Howard da vida real.

Depois de avaliar alguns aspectos desses figurinos, não há dúvidas do quão importante eles são para a construção de cada personagem citado. Assim como os atores, diretores e roteiristas, os figurinistas também são responsáveis pelo sucesso desses personagens que, a despeito do caráter pouco sociável que alguns possam aparentar em cena, ganham o respeito e a popularidade dos espectadores que os prestigiam.

Um comentário:

  1. ... e o guarda-roupas é um bau dos segredos, pois ali estão as riquezas da casca de nossa personalidade.

    by Rennô (Marco)

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