Assisti This Must be the Place, do italiano Paolo Sorrentino, e foi com grande surpresa que percebi uma relação entre o personagem principal deste longa e um outro, também de origem italiana, mas filmado nos EUA, que atende pelo mesmo nome. Assim como o astro de rock Cheyenne, vivido por Sean Penn e escrito a quatro mãos pelo próprio Sorrentino e Umberto Contarello, conheci outro Cheyenne de 44 anos atrás em Once Upon a Time in the West, baseado na história que Bernardo Bertolucci e o diretor Sergio Leone criaram juntos.
O Cheyenne roqueiro dos dias de hoje, à primeira vista, em nada se parece com o bandidão do Spaghetti Western vivido por Jason Robards em 1968. O ex-astro do rock se arrasta de um canto a outro da tela em uma vida cujos grandes acontecimentos ficaram há mais de 20 anos de distância, enquanto o Cheyenne do Faroeste é um dos bandidos mais respeitados da região. E, se nos passos de seu homônimo vemos um certo despropósito, o oposto acontece com o bandidão: cada aparição do Cheyenne do Western é certeira como um tiro, sem espaço para as divagações corriqueiras do astro deprimido.
Cheyenne, vivido por Jason Robards em Once Upon A Time In The West, em 1968
Por outro lado, é possível encontrar muito mais semelhanças entre os dois do que a simples carcaça empoeirada de um ou a maquiagem exagerada do outro poderiam sugerir. Os motivos pelos quais o Cheyenne deprê de Sorrentino largou a música não são muito claros desde o início, mas em uma conversa com David Byrne (aham, David Byrne) o personagem explica que se sente culpado pelo suicídio de dois adolescentes cometidos em nome de uma letra sua. Já o Cheyenne do Faroeste é conhecido por sua infalibilidade na hora de cometer assassinatos. E aí percebemos como a vida de cada um dos personagens é pautada pela morte.
Cheyenne vivido por Sean Penn, em This Must Be The Place, em 2011
No decorrer dos filmes, no entanto, vamos vendo a transformação de seus estereótipos. Aos poucos, o bandidão do Faroeste vai amolecendo e ele passa a proteger a mocinha Jill McBain, enquanto o roqueiro quarentão sai da concha e envereda em uma busca por vingança em nome de seu pai. Ao final, sabemos que nenhum dos personagens terminou o filme como começou: enquanto o ex-roqueiro perdido no tempo endurece, descobrimos que Cheyenne, o bandidão, amoleceu para proteger a bela dama.
Cheyenne (Jason Robards) e Jill McBain (Claudia Cardinale)
Além de visualmente deslumbrantes, cada um dos filmes conta com uma trilha sonora de fazer história. As músicas compostas por Ennio Morricone para o filme de Sergio Leone se misturam às cenas a partir da gaita, instrumento que acompanha o personagem principal em toda a trama. Do mesmo jeito, a trilha invade a cena em diversos momentos em This Must Be the Place e, se a crítica não tem sido assim tão favorável com o filme de Paolo Sorrentino quanto foi com o de Sergio Leone, é quase unânime que a sequência em que David Byrne canta a música que dá título ao filme é impagável.
Por Tatiana Laai Televina! Era assim que minha mãe me
chamava, como a personagem da novela A Gata Comeu, a empregada engraçada que
sabia tudo sobre o universo televisivo e vivia citando novelas. Foi meu lado
Televina que me fez relembrar o seriado A Gata e o Rato, uma das minhas
primeiras paixões televisivas, e elas são muitas!!
A Gata e o Rato
(Moonlighting) estreou em 1985 e foi um marco na TV americana. Ouso dizer que
se hoje parte da diversão dos fandoms de séries e animes é torcer por casais
fictícios, A Gata e o Rato tem muito
a ver com isso. Muito antes dos “shippers” de plantão enlouquecerem por Mulder
e Scully, no Arquivo X, ou por Sasuke e Naruto, em Naruto, a coisa fervia por
Maddie e Addison.
Maddie Hayes (Cybill Shepherd) é uma ex-modelo, bem-sucedida,
linda, glamurosa, independente, trabalhadora e sexy, até o dia em que seu
empresário desaparece com todo o seu dinheiro, deixando para trás somente uma
das propriedades de sua cliente: a Agência de Detetives "City
Angels". Não foi por bondade do empresário: a agência havia sido criada
apenas para dar prejuízo e gerar reduções nos impostos. Na falência e cheia de
dívidas, Maddie é convencida pelo funcionário bom de lábia David Addison (Bruce
Willis), um cara esperto, sedutor e boa pinta, de que a agência poderia dar
lucro. Eles rebatizam a empresa de “Blue Moon" e Maddie se descobre uma
boa detetive particular.
Logo, A Gata e o Rato
deveria ser um seriado de detetives, certo? Mais ou menos, mais pra menos. David
Addison é charmoso, desencanado, divertido, folgado e cínico. Maddie é séria,
mega responsável, refinada, um tanto controladora e fria. Juntos eles são
nitroglicerina pura: muita atração e antipatia, muita briga e tensão sexual,
muitos diálogos rápidos e espertos e uma pergunta intrigante: eles vão ficar
juntos, ou não vão? Pegue dois personagens carismáticos e charmosos, junte os
dois com muita química, e está pronta a receita de uma boa comédia romântica,
bem temperada com ação, suspense e até um dramazinho.
Esta é a “guerra dos sexos” que mais fez sucesso na TV dos
anos 80. A série foi inspirada no clássico cinematográfico Jejum de Amor (His Girl Friday, 1940), estrelado por Cary Grant e
Rosalind Russell, confirmando sua origem romântica no melhor da comédia do
gênero da era de ouro do cinema, e virou inspiração para tantas outras. A mais
recente e óbvia é a série Castle, também
com um casal de detetives. Agora, chegando ao final da quarta temporada, a
pergunta que não quer calar é: quando é que o escritor Richard Castle e a
detetive Kate Beckett (vividos por Nathan Fillion e Stana Katic, respectivamente)
vão ficar juntos e acabar logo com esse
suspense?
Quem também se divertia com as brigas de Maddie e Addison e
não perdia a chance de fofocar sobre eles era a atrapalhada secretária Srta DiPesto
(Allyce Beasley) que não cansava de ver
os dois saírem discutindo do escritório e, como uma representante do público,
vivia especulando sobre a paixão entre os briguentos. Com uma voz muito
esganiçada e um ar de louquinha, ela vivia fazendo rimas ou ficava plantada
falando sozinha, depois de uma discussão entre David e Maddie. Mais tarde
Curtis Armstrong (de A Vingança dos Nerds),
se uniu ao elenco interpretando um empregado temporário chamado Herbert Viola,
que passou a ser também investigador da agência. Viola e Dipesto acabaram tendo
um relacionamento, que por sinal era muito parecido com o dos patrões. O casal
também era responsável por grande parte das cenas cômicas da série.
O jogo de gata e rato (trocadilho adotado como título no
Brasil é bastante adequado) entre Maddie
e Addison durou 2 temporadas. Todo mundo ficava em frente à TV roendo as unhas
para saber quando é que o casal barraqueiro ia, enfim, partir para os
finalmentes. E o dia D veio em 31 de março de 1987. Numa cena polêmica, com uma
violenta briga e muitos tapas! David e Maddie finalmente vão para a cama,
encerrando a expectativa de milhões de expectadores americanos. No Brasil, a
série foi apresentada pela Rede Globo em
meados da década de 1980. Depois foi comprada pelo SBT, nos finais dos anos 90.
Também foi exibida pelo canal a cabo Sony (2003) e Multishow (2005).
A tal cena foi assunto de alguns dos maiores jornais dos
Estados Unidos, como o Chicago Tribune e o Los Angeles Times, e deu manchete no
New York Times: “Maddie Hayes e David Addison se tornarão amantes hoje às nove
da noite, e a ABC quer ter certeza de que todos saibam disso”. Graças à
estratégia do canal, à propaganda nos guias de TV e à ansiedade dos fãs, todo
mundo ficou sabendo mesmo: o episódio teve 44% de audiência nos Estados Unidos
em pleno horário nobre. Mais de 60 milhões de pessoas assistiram ao tão
esperado momento entre tapas e beijos e o seriado entrou oficialmente para a história da TV.
Mas não só por isso. Sempre dosando, a cada episódio, humor
súbito, humor escrachado e drama, a série la se tornou uma das primeiras de um
gênero que viria a ser conhecido como "dramédia" e tornou-se
conhecida por constantemente "derrubar a quarta parede" - termo
emprestado do teatro, que explica o seguinte: como os espectadores precisam
assistir ao que acontece, o palco só tem três paredes, a do fundo e as dos
lados; a parede da frente é "invisível", e é através dela que
enxergamos a ação; ao derrubar a quarta parede, os personagens falam ou fazem
coisas que nos mostram que eles têm consciência de que aquilo não é real, fato
que nem sempre combina com o que estamos assistindo. Addison, por exemplo, frequentemente dizia
coisas como "o canal jamais nos
deixará fazer isso", ou "a
culpa não é minha, é dos roteiristas", enquanto os demais personagens
olhavam atônitos, como se não compreendessem o que ele queria dizer. Essas
falas não eram improviso, mas constavam do próprio roteiro, fazia parte do
humor do seriado. A Gata e o Rato não foi a primeira a fazer uso desse recurso, mas
foi a primeira a fazê-lo com sucesso. A série mereceu uma menção dos diretores
da "Guild of America", como uma das melhores séries de dramédia dos
últimos 50 anos da televisão.
Depois que o casal briguento levou suas desavenças para baixo
dos lençóis, o seriado começou a perder audiência e a ter problemas de
produção, com muitos atrasos e brigas entre a equipe. Os atores-protagonistas
ficavam cada vez menos disponíveis para a série: Cybill estava grávida e Bruce
Willis, até então um desconhecido, após ganhar um Globo de Ouro de melhor ator
pela atuação no seriado, começou sua bem sucedida carreira cinematográfica (o
primeiro filme da série "Duro de Matar" seria lançado em 1988). A série foi cancelada em 1989, mas não sabemos exatamente o
que causou o fim. Uns dizem que foi o
desencontro entre os dois atores principais, disponíveis somente parte do tempo
e em épocas diferentes (além de inúmeros choques nos bastidores), outros acham
que depois que o casal se entendeu a série perdeu o charme. Teria sido a
consumação da expectativa dos telespectadores que minou o interesse pela
história? Será que o povo gosta mesmo é de romance em suspense, cheio de tapas
e beijos?!
Em seu auge, A Gata e
o Rato conquistou picos de audiência e a simpatia da crítica. Ao todo,
foram 39 indicações ao Emmy e 7 prêmios. Bruce Willis levou um Emmy e um Globo
de Ouro de melhor ator. Cybill Shepherd, 2 Globos de Ouro. A música-tema da abertura “Moonlighting
Theme”, de Al Jareau, foi indicada ao Grammy de 1988. Maddie e David foram
escalados várias vezes entre os “melhores casais da TV”.
A febre já passou (será?),
mas o vício ficou para um bom número de usuários. Entre os vários aplicativos
chatos do facebook que você recebe todos os dias, o Song Pop parece que conseguiu a árdua missão de agradar a gregos e
troianos (Zuckerberg que o diga). Com mais de 2 milhões de fãs, a empresa
responsável (Fresh Planet) lançou uma versão premium do joguinho. Minha
experiência com o game começou um pouco atrasada, acho que não botava nenhuma
fé quando me enviavam pedidos – imaginava mais um jogo chato de facebook e
ignorava. Passado mais de um mês, resolvi pagar pra ver. Atualmente, Song Pop se tornou um passatempo diário.
Se você é daqueles que não
se “vende” facilmente por qualquer coisa do facebook, vale ler o texto abaixo
com as instruções básicas do jogo. Caso já esteja cansado de jogar Song Pop,
pule o parágrafo.
Aí vai uma explicação
resumida: vocês lembram de “Qual é a Música”? Aquele programa do SBT com um
sujeito estranho chamado Pablo, fazendo dublagens de canções populares?
É um bom exemplo para introduzir.
Primeiro se escolhe um estilo – que vai dos mais chatos e aleatórios, Modern
Rap ou Today’s Hit, aos realmente divertidos e competitivos: Classic Rock e até
MPB. Aí aparecem quatro músicas ou
artistas, além de uma contagem de tempo. Quanto mais rápido e certeiro você
for, em melhores condições estará contra o seu adversário (que pode ser seu
amigo ou um desconhecido da rede social). São cinco etapas, quem acertá-las em
maior número, o mais rápido possível, vence. Terminada a rodada, você aguarda
seu rival devolver o desafio. E por aí vai... durante uma semana. Na semana
seguinte começa outra partida.
Quantas vezes você já ouviu essa canção no Song Pop?
Já jogo há mais de um mês. Nesse
meio tempo, viciei alguns amigos – a ponto de vê-los jogando em iPhones e
PCs na mesma casa, simultaneamente. Essa trajetória de amor e vício com
o jogo me fez chegar à seguinte teoria de botequim: o Song Pop é tão querido
porque une música, um vício universal, com a diversão dos tempos contemporâneos,
fragmentados e acelerados. Quantas vezes a gente não se pega lendo um texto e,
de repente, esse um se transforma em mais três... ao mesmo tempo! E as
possibilidades que o Napster e Kazaa (os anciões entre programas de baixar
música) nos deram? Conhecer o David Bowie em diferentes épocas a partir de uma
dúzia de músicas – sem precisar gastar com um best of (embora eu desde sempre seja a favor de ouvir o álbum por
inteiro!). Entre outras histórias que já estamos cansados de ouvir, e que as
vezes nos fazem crer que temos todos TDAH.
Me parece que os desdobramentos
do Song Pop são plenamente positivos. Afinal, além de nos obrigar a ampliar o leque
de conhecimento musical para vencer, mesmo que isso tenha que ser feito por uma
fração de segundos, o jogo nos faz deixar alguns preconceitos de lado em prol da
vitória. E o mais importante, faz a pessoa ter um mínimo de interesse por
aquilo que ouve. Quantas foram as músicas que, após ouvir 3 segundos, resolvi
procurar na íntegra no youtube ou grooveshark após a partida. A partir
daí, conhecemos uma gama imensa de sons novos. Bom, assumo que além de viciado,
exalto o Song Pop em todas as instâncias: do entretenimento às oportunidades de
conhecimentos musicais.
Lembrando que a versão original do programa de TV americana se chamava
”Name That Tune” e começou em 1952, o Silvio sabia o que estava fazendo ao
reeditar a popular fórmula há uns anos, que nesta versão da era da internet
amplia o sucesso fundindo jogadores e audiência. Segue o link para a matéria publicada hoje no jornal O Globo sobre o interesse do Song Pop no Brasil (3° lugar em termos de popularidade no mundo) - http://oglobo.globo.com/cultura/o-song-pop-agora-quer-entender-brasil-5697602